O Rio Grande do Sul construiu sua identidade econômica com base no trabalho, na inovação e na capacidade de se conectar com o mundo. Esse DNA exportador é amplamente reconhecido, mas é hora de olharmos também para o outro lado do fluxo: a importação estratégica de produtos e marcas que agregam valor eleva padrões e fortalecem cadeias produtivas locais.
A participação de 12% da União Europeia nas importações totais do Rio Grande do Sul em 2023, segundo o Atlas Socioeconômico do RS, evidencia o peso estratégico do bloco como fornecedor de bens e insumos de alto valor agregado para a economia gaúcha. Não se trata apenas de volume, mas de qualidade: a maior parte desses produtos é formada por equipamentos industriais, tecnologia embarcada, componentes automotivos, químicos e bens de capital que não têm equivalente competitivo na produção local. Esse fluxo amplia a capacidade produtiva das empresas gaúchas, reduz prazos de modernização e incorpora padrões técnicos internacionais que fortalecem a competitividade do estado.
Esse dado reforça a tese de que a importação não é um movimento que fragiliza a indústria nacional, mas sim um vetor de desenvolvimento. Ao trazer para o Brasil, e para o Rio Grande do Sul, uma marca europeia de tradição, com tecnologia consolidada e design reconhecido, a operação não apenas coloca um produto premium no mercado, mas ativa uma cadeia de serviços, fornecedores e investimentos locais. Assim, a relação comercial com a Europa deixa de ser apenas um indicador estatístico e se transforma em uma ferramenta prática para posicionar o estado como protagonista no intercâmbio de alto valor agregado.
A chegada da Moto Morini ao Brasil, marca italiana com 88 anos de história, é um exemplo concreto de como essa lógica funciona. A operação que implantamos preserva a essência e o padrão de excelência do produto europeu, mas é estruturada com montagem nacional, inserindo fornecedores, concessionárias e serviços brasileiros em uma cadeia global de valor.
Importar, no contexto certo, é ativar um ciclo de competitividade. Produtos de alto nível forçam o mercado local a inovar, atualizam padrões técnicos, movimentam setores complementares e aumentam a atratividade do estado para novos investimentos. No caso da Moto Morini, a importação de componentes de ponta não apenas traz ao consumidor final um produto de qualidade superior, como também estimula a profissionalização de serviços, a modernização de processos e a especialização da mão de obra.
Essa integração internacional precisa ser vista como política econômica. Ao mesmo tempo em que exportamos o que temos de melhor, devemos importar aquilo que ainda não produzimos com a mesma eficiência ou competitividade. É um movimento que complementa a economia e não a substitui.
O Rio Grande do Sul tem tradição industrial, infraestrutura logística e capital humano qualificado para se tornar um hub relevante nesse fluxo de importações de alto valor agregado. Mas isso exige visão de longo prazo e estímulos semelhantes aos oferecidos em polos como a Zona Franca de Manaus, por exemplo, criando ambientes favoráveis para a instalação de operações que transformem o estado em porta de entrada para marcas e tecnologias internacionais.
Globalização não é abrir mão da nossa identidade, é fortalecê-la, conectando o melhor do mundo ao melhor que podemos oferecer. A importação estratégica é parte essencial dessa engrenagem e, quando bem-feita, é um investimento direto na competitividade e na relevância do Rio Grande do Sul no cenário global.




