A resiliência climática deixou de ser um conceito de laboratório para se tornar critério de sobrevivência da infraestrutura hídrica brasileira. No 33º CBESA/ ABES 2025, em Brasília, vimos diagnósticos preocupantes sobre a frequência de secas severas, cheias históricas e elevação do custo de capital para obras de saneamento, mas também testemunhamos como a soma de tecnologia, planejamento e parceria público-privada pode transformar esse cenário — e a Aegea está entre os exemplos mais tangíveis dessa mudança.
Os dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental apontam vulnerabilidades persistentes no meio rural em esgotamento sanitário e acesso à água, vulnerabilidades que se agravam sob eventos extremos porque redes antigas rompem, mananciais se contaminam e estações de bombeamento podem falhar por falta de energia. Ao relacionarmos essas carências às projeções do Índice de Ameaça Climática para 2050, fica evidente que a prioridade do setor deve ser adaptar sistemas para operar sob estresse hidrológico, mantendo continuidade do serviço e qualidade da água mesmo durante enchentes ou estiagens prolongadas.
Nas intervenções que tenho realizado em fóruns setoriais, defendo que a universalização do saneamento só será duradoura se vier acompanhada de robustez climática, pois redes frágeis colapsam após o cumprimento das metas contratuais. Essa convicção se fortaleceu ao apresentar, na Câmara Americana de Comércio, o Plano de Resiliência Hídrica que direciona R$ 15 bilhões em investimentos da Corsan Aegea para reduzir perdas físicas, elevar a coleta de esgoto e proteger estações em cotas seguras nas bacias mais afetadas pelas enchentes de 2024.
Esses objetivos ganham tração porque a Aegea adotou, em 2024, uma plataforma de smart water que integra telemetria de hidrômetros, sensores de pressão e imagens de satélite, permitindo resposta quase em tempo real a vazamentos, sobrepressões ou contaminações durante cheias. O sistema, operando em 500 municípios, já contribuiu para reduzir índices de água não faturada e antecipar manobras de válvulas que evitam o colapso de redes em picos de vazão. Esse ganho operacional se conecta às nossas metas ESG: cortar 15 % do consumo de energia por metro cúbico tratado até 2030 e levar água potável a 99 % da população atendida até 2033, metas públicas em nossa Política de Sustentabilidade.
Outro vetor é a inovação em materiais e construção. Estações em áreas críticas passaram a usar estruturas pré-moldadas em concreto de alta durabilidade, bombas submersíveis com proteção IP68 e geradores fotovoltaicos de backup, atendendo à diretriz de ampliar fontes renováveis e neutralizar emissões operacionais. Tais iniciativas já renderam reconhecimentos, como o “Guardiões pela Água”, do Pacto Global da ONU, pelo projeto comunitário “Vem com a Gente”, que une mobilização social a soluções de drenagem verde em áreas de alta vulnerabilidade.
A experiência de 2024 no Rio Grande do Sul expôs também a necessidade de protocolos de contingência intersetoriais. Nos municípios atendidos pela Corsan Aegea, instalamos barreiras infláveis temporárias, reforçamos estoques de produtos químicos e criamos centrais de comando com Defesa Civil com protocolos para acelerar a retomada da potabilidade da água pós-enchente, benchmark alinhado a recomendações recentes da ABES.
Em paralelo, promovemos educação ambiental: moradores participaram de oficinas sobre uso consciente da água e descarte correto de resíduos, — medida que diminui entupimentos de coletores durante temporais e fortalece a resiliência comunitária.
Ao articular políticas públicas, capital privado e engajamento social, reforçamos que a segurança hídrica diante da crise climática é tarefa coletiva. Não há desenvolvimento econômico sem saneamento, nem saneamento duradouro sem adaptação climática. Os números confirmam: cada real aplicado no setor retorna até R$ 4 em redução de custos de saúde e aumento de produtividade, razão pela qual seguimos defendendo marcos regulatórios estáveis que garantam escala e previsibilidade para investimentos de longo prazo.
A Aegea chega aos seus primeiros 15 anos com cobertura de 31 milhões de brasileiros e um roteiro claro: antecipar metas do Marco Legal do Saneamento, reduzir perdas, neutralizar emissões e tornar cada concessão um laboratório de soluções climáticas replicáveis em toda a federação. Essa ambição não é retórica. É um compromisso assumido publicamente, auditado e alinhado à convicção de que investir hoje em resiliência é garantir que as cidades brasileiras, de norte a sul, possam atravessar a próxima década com sistemas de água e esgoto capazes de proteger vidas, conservar ecossistemas e sustentar crescimento econômico inclusivo.