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Juliana Carvalho, prefeita de Eldorado do Sul

Recentemente, a prefeita de Eldorado do Sul, Juliana Carvalho, participou do programa Raio X, transmitido pela POA 24 Horas TV. Apresentado pelo diretor geral do canal, Diego Garcia, e o CEO da Agência Euro, Arthur Lencina, o programa trouxe para o debate as principais demandas da gestão municipal e a realidade da cidade, que protagonizou no ano passado um episódio muito triste, mas que está começando a reescrever a sua história com esperança e uma boa perspectiva de futuro. A Revista Em Evidência compilou os melhores momentos desta conversa, que foi cedida gentilmente pela POA 24 Horas TV. Confira a seguir, alguns trechos da entrevista com a prefeita Juliana Carvalho.

Após a enchente de 2024, qual é a atual situação do seu município?

Ele está sendo reconstruído. No ano passado, de uma forma muito triste, o nosso município foi devastado, ficou embaixo d’água, com quase 100% da nossa área urbana afetada. Eu venho trabalhando incansavelmente todos os dias, desde a minha posse, para colocar a casa em ordem e fazer uma limpeza geral, não só nas estruturas da prefeitura, mas principalmente nos estragos que a enchente deixou. Nos seis primeiros meses, fizemos uma grande força-tarefa para nos preparar para o período de chuvas. E conseguimos ver os resultados disso nas chuvas de junho. A cidade só alagou quando a água do rio começou a avançar, por conta da posição geográfica. Mas as questões de alagamentos pontuais, que eram causados pela chuva que cai dentro da cidade, vimos um resultado e uma diferença bem grande.

Como estão as obras em Eldorado do Sul, para tentar diminuir o represamento que a BR impõe quando tem cheia?

É muito importante falar sobre isso. Realmente, precisamos sensibilizar as autoridades envolvidas nesse trabalho. A questão da enchente está ligada à contenção da bacia hidrográfica e essas obras de proteção precisam ser feitas pelo Estado, com recurso do governo federal. O dinheiro já está garantido pelo governo federal, que tem sido um grande parceiro da nossa cidade. O único entrave é a burocracia. A quinta ponte é uma obra que eu acredito muito que pode ficar pronta bem antes, custando muito menos do que o dique, e vai ajudar muito a proteger o município. Também chamam de ponte seca, porque ela faz a passagem da água por baixo da BR. Quando a cheia vem do Rio Jacuí e chega na BR, ela bate ali e não tem para onde ir, a não ser vir para dentro da cidade. Se ela pudesse passar, seguir o seu caminho, Eldorado do Sul ficaria mais protegida do que é hoje.

Em junho deste ano, quando caiu uma chuva muito forte, a cidade teve problemas de alagamento também. As novas galerias na alça da Ponte do Jacuí ajudaram no escoamento da água?

Nós terminamos essas obras, comprovando a nossa teoria. Inclusive, estamos projetando para fazer mais quatro daquelas galerias, porque isso vai aliviar muito a questão do alagamento no bairro Picada, que é costeado, pela Ilha da Pintada de Porto Alegre. Aquele bairro ficaria desprotegido pelo dique, por isso, é necessário realizar as obras de proteção, que abririam passagem para a água ir embora mais rápido. Nós vamos fazer, porque vimos que uma deu muito certo. Então, se abrirmos mais passagens, a água vai passar mais rápido e assim evitaremos que aquele bairro sofra grandes enchentes.

Quais são as principais dificuldades da educação no seu município?

Nós fizemos um trabalho bem forte na educação, para conseguir trazer os alunos de volta e conseguimos aumentar bastante o número de alunos matriculados. As principais dificuldades são os investimentos públicos. A educação é uma das pastas que mais tem recursos e conseguimos investir um pouco mais por conta disso, mas existe muita coisa para fazer. Como toda cidade precisa ser restabelecida, a educação também necessita de reconstrução, desde a estrutura física até o ensino, que já era difícil antes da enchente. Nossos indicadores de educação são muito ruins e um dos meus objetivos é aumentar esses índices.

Prefeita, viralizou um vídeo seu, onde a senhora chorava, por causa de uma notificação do governador sobre um entrave burocrático. Conte-nos sobre esta história.

Nós estávamos dentro da água novamente, que era o maior medo do cidadão de Eldorado do Sul. Eu acompanhava o grupo de trabalho do governo do Estado passo a passo, para atualizar o anteprojeto do dique e finalmente começar essa obra tão esperada para a cidade. A população estava extremamente desesperada, porque a água tomava conta da área urbana outra vez. Eu fui pessoalmente ao encontro do governador, porque precisava trazer uma boa notícia para Eldorado do Sul, com a assinatura da homologação da licitação para a atualização do anteprojeto do dique. Imagine chegar lá com essa expectativa, vivendo um desespero no seu município e receber a notícia de que não, para tudo, porque decidiram suspender a licitação na fase final, na homologação. A alegação era de que a modalidade da licitação não era a ideal. Mas por que não foi feito isso na publicação do edital? Olha o tempo que perdemos. E nós dentro da água, a cidade inundada novamente. Fica difícil não se emocionar. Eu sou uma pessoa que tenho muito controle das minhas emoções, mas naquele dia foi terrível. Liguei para todo mundo, fui pessoalmente ao Tribunal de Contas, conversei com o conselheiro, enfim, tudo o que podia fazer e que estava ao meu alcance, eu fiz. Quase um mês depois, veio a boa notícia, que a suspensão foi revogada.

Como está a questão do planejamento urbano em Eldorado do Sul?

O planejamento urbano é uma questão muito sensível em todas as cidades. Eldorado do Sul, especialmente, porque a cidade cresceu para dentro do rio. Isso é muito grave e um bom planejamento poderia ter evitado isso. Então, estamos fazendo um trabalho planejado e organizado, para que isso não volte a acontecer e não existam novas comunidades nessa condição. Nós também precisamos retirar as pessoas das áreas de risco. E isso é uma tarefa extremamente complexa. As pessoas estão em risco, mas elas não querem sair de onde se reconhecem como pertencentes. Então, tudo isso faz muita diferença na vida das pessoas. Neste ano, queremos remover a comunidade de maior risco, que é a Vila da Paz. Ela cresceu para dentro do rio e em qualquer cheia, a região alaga primeiro do que os outros. Nós estamos construindo um bairro planejado, com a ajuda do governo do Estado, e tem as famílias contempladas pelo programa do governo federal, Compra Assistida. Posteriormente, a nossa ideia é transformar o espaço em um parque, para que não exista mais a possibilidade de alguma família se colocar em risco morando lá. Nós pensamos num projeto com soluções baseadas na natureza, semelhante ao que fizeram na Holanda, transformando aquele lugar com bacias de contenção, para que a água possa ficar acumulada, ao invés de invadir os outros bairros, e que tenha também espaços de convivência e lazer. Inclusive, estamos com um projeto, em parceria com uma ONG, a Gerando Falcões, para embarcar essas pessoas no programa Decolagem, que disponibiliza um tutor para cada uma dessas famílias. Assim, nós queremos garantir que todos consigam trabalhar. Aqueles que não conseguirem, vão fazer uma qualificação, de acordo com a demanda no entorno de sua moradia. Queremos realmente transformar a vida dessas pessoas, não só tirá-las da situação de risco e alagamento, mas também da vulnerabilidade social.

Qual a sua expectativa com a empresa de tecnologia que pretende criar um data center no município?

Será um divisor de águas para o município, a economia local e a nacional. É um investimento muito grande, uma cidade de data centers que promete ser a maior da América Latina. Enfim, através da prefeitura e do governo temos que acompanhar esse crescimento digital, que vai modificar Eldorado do Sul. Inclusive, nós ganhamos uma doação de notebooks e computadores da Dell e da Escala Data Center, que é a empresa de data centers, para iniciarmos um trabalho de letramento digital das crianças, porque queremos tornar esses alunos, que hoje estão no Ensino Fundamental, em pessoas capazes e aptas para ocupar as vagas, que serão oferecidas na área de tecnologia no nosso território.

Esse empreendimento custará três bilhões de reais. O local para a empresa sofreu com a enchente?

O terreno em que vai ser instalada a empresa não alagou, isso ajudou o município a manter esse investimento em Eldorado do Sul. A posição geográfica que ela escolheu também é muito boa para o desenvolvimento da cidade, porque fica bem no meio do caminho entre o Centro e o interior. A comunidade do interior tem dificuldade de acessar as oportunidades de trabalho, por conta do valor da passagem dos ônibus e da dificuldade com a mobilidade. Agora, nós estamos movimentando isso, para poder construir um transporte público municipal de maneira efetiva e que as pessoas de toda a cidade possam ocupar as vagas de trabalho.

Como está a questão da saúde em Eldorado do Sul?

A saúde é a política pública que mora no meu coração. Eu sou uma profissional da saúde, ou seja, sou nutricionista e estou concluindo o meu mestrado. Enfim, a saúde pública é um desafio em todo o município, e em Eldorado do Sul também não é diferente. A notícia boa é que Eldorado do Sul vai ter um hospital resiliente, com o aporte do governo do Estado, uma obra de 65 milhões de reais. Portanto, já está publicado, no Diário Oficial, o aporte do recurso para fazer o projeto e, em seguida, começa a licitação para a obra de um hospital 100% resiliente. Geralmente, os hospitais têm as casas de máquinas no subsolo, que é para não ocupar espaço, enfim, num hospital resiliente, ela fica no último andar. E ele também tem um heliponto, que é um espaço onde conseguimos fazer a evacuação dos pacientes e até da cidade se precisar. É um hospital todo pensado para funcionar, inclusive, dentro da água se precisar. O primeiro pavimento do hospital é todo com estacionamento, rampas de acesso e escadas, para que se houver um alagamento, que esperamos que não aconteça, ele possa operar sem precisar parar.

O governador do Estado, Eduardo Leite, trocou de partido e foi para o PSD. A senhora também pretende seguir os passos de Leite e deixar o PSDB?

Eu estou pensando nesse assunto, porque é uma decisão muito séria. Recém troquei de partido, saí do MDB e fui para o PSDB, para concorrer à prefeitura. Meu partido tinha outra intenção no ano passado e contrariava o nosso projeto político. Sou nova no PSDB, não é minha vontade sair de novo, mas está havendo um êxodo muito forte no partido. Então, esse é um momento delicado, nós temos que pensar bem e conduzir isso com muita responsabilidade e maturidade. Eu não quero ficar trocando de partido, pretendo criar raízes e fixar o meu projeto político dentro de uma sigla em que possa permanecer.

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