Não existe nenhum jornalista na história do Rio Grande do Sul com maior magnitude que Paulo Sérgio Pinto. Também não existe, na história da TV Rio Grandense, um programa mais disputado, entre as pessoas que regem este estado, que o Pampa Debates. Afirmo isso com conhecimento de causa de quem já esteve por diversas vezes nos bastidores desse case de grande audiência. Esqueça o jargão que “cada um de nós é um canal de comunicação”, Paulo Sérgio Pinto é, de fato, um canal de comunicação, que, por princípios, optou por permanecer na empresa que o alavancou. Trata-se de um profissional extremamente requisitado, preparado e atualizado, e possui o potencial de encontrar as portas abertas em qualquer veículo de imprensa.
Sua fórmula se baseia na naturalidade, espontaneidade, aliadas a pseudo casualidade com que aborda temas extremamente polêmicos, sem ser apelativo ou demagogo, sempre de uma forma mais minuciosa e profunda daquela que estamos costumados, tudo isso, sem abrir mão do tom divertido e descontraído. Não à toa, os mais altos nomes do estado disputam uma cadeira em seu programa diário, na rede Pampa de Comunicação (de segunda a sexta‑feira, a partir das 17h45).
Porém, a coisa muda de figura quando falamos da privatização de serviços essenciais, isso porque, muito embora o Estado não tenha capacidade técnica para oferecer o nível de qualidade que a demanda propõe, a responsabilidade é imensa, e diga-se de passagem, quanto mais básico o serviço, maior sua amplitude e, portanto, mais preparo ele exige.
Nessa edição, a revista Em Evidência, orgulhosamente, homenageia estes convidados que também fazem esse programa maravilhoso, bem como homenageia a comunicação do Rio Grande do Sul, prestigiando esse jornalista que consideramos, sim, o mais influente da política gaúcha.
Senhoras e senhores, com vocês, Paulo Sérgio Pinto.
O senhor é formado em Engenharia Eletrônica e de Segurança do Trabalho. Como ocorreu a transição para a Comunicação?
Na realidade, eu era árbitro de futebol e trabalhava no Unibanco, como gerente de banco. Paralelamente, eu apitava futebol, quando recebi um convite, no início da década de 80, para ser comentarista da Rádio Guaíba. Então, deixei a arbitragem e passei a ser comentarista. Como eu exercia essa nova profissão antes da Constituição de 88, passei a ter o registro de jornalista, a partir das garantias estabelecidas pela Carta Magna. Foi exatamente neste momento, que eu me tornei um comunicador profissional.
De todas as condecorações que recebeu, qual delas teve a maior relevância para o senhor?
Todas possuem o seu devido valor, por isso que não posso destacar nenhuma delas. Do Exército e da Brigada Militar ganhei praticamente todas. No agronegócio também recebi muitas, especialmente na Expodireto Cotrijal, então tenho orgulho de todas. Como comentarista esportivo, ganhei duas Bolas de Ouro e a Medalha João Saldanha. Recebi a Ordem do Mérito do Ministério Público e do Ministério da Defesa, do Exército, a Ordem do Mérito Militar em dois graus e a Medalha do Pacificador. Então, não tem como destacar, porque todas me trouxeram muita alegria, sempre em função do relacionamento e do que as pessoas entenderam de mim, que resolveram naquele momento da homenagem me destacar de uma forma ou de outra.
Como foi para o senhor assumir a vice-presidência da Rede Pampa de Comunicação?
Eu acho que foi um processo de evolução, por tudo o que havia feito no Correio do Povo, que despertou a atenção do Otávio Gadret. Por muito tempo, o Otávio tentou me convencer a trabalhar na Rede Pampa. Ele tem um poder de persuasão enorme. Eu estava muito bem no Correio do Povo, não tinha uma razão lógica para sair, apenas ele despertou muito o interesse em me ter na empresa e conseguiu me convencer. Como não sou de titubear muito, embora seja arraigado e enraizado em tudo que faço, tomei a decisão de sair e vim para a Rede Pampa. Eu acho que os cargos e as funções pouco importam, seja como diretor no Correio do Povo ou vice-presidente na Rede Pampa. Quando a pessoa exerce uma função, ela tem que procurar ser a melhor. Eu procurei desempenhar com precisão tudo o que fiz, buscando sempre a perfeição, mas ela não existe. A busca da perfeição é importante e sempre nos motiva a fazer o melhor. Nunca procurei dimensionar a minha atuação pelo cargo que exerço, mas pelo trabalho e desempenho.
Qual a importância da realização de eventos de debates políticos, como o Fórum Econômico Gaúcho, Tempo de Desenvolvimento no Rio Grande do Sul e a série de ações que a Rede Pampa realiza?
Eu acho essencial o papel que a empresa de comunicação jornalística possui, além de levar lazer musical para as pessoas através das nossas rádios. Na medida em que temos as rádios que fazem jornalismo, como a Pampa e a Grenal, a TV Pampa, o Jornal O Sul, o nosso portal e as redes sociais, obviamente que possuímos essa obrigação, de ser o elo entre o que acontece no mundo político e econômico, com a sociedade. Essa conexão te leva a tomar várias iniciativas. Tem gente que fica no feijão com arroz, ou seja, na divulgação diária da participação nos debates. As nossas emissoras possuem algo a mais e isso existe em função dos prêmios que realizamos, para reconhecer quem desempenha bem os seus papéis, em diversos setores. A questão dos fóruns e seminários se soma para estabelecer uma visão que a empresa pretende levar. Todos nossos fóruns foram um sucesso e a nossa intenção é repetirmos. Para uma empresa jornalística, o fórum empresarial e político é fundamental, pois complementa tudo aquilo que se fez ao longo dos anos. Para mim, é a “cereja do bolo”.
Por que o Pampa Debates faz tanto sucesso?
Então, quem faz sucesso são os convidados. O programa quanto mais polêmico melhor ele é, porque traz mais audiência. É claro, que nós temos esse dualismo político, onde vivemos uma condição de debate e até de enfrentamento, muito mais exacerbada do que tivemos em outros momentos. Mas nem sempre conseguimos ter o melhor e um tema adequado. O Pampa Debates é muito procurado, para ser executado em setores no interior do estado, como, por exemplo, a abertura da Expodireto Cotrijal, Fenasoja e Fenarroz. Nós já fizemos programas no mundo inteiro, como no Cazaquistão, Hanover, na Alemanha, e na Argentina. Então, o programa que se internacionalizou nem sempre chega a despertar permanentemente o aspecto polêmico, que é o que determina a maior audiência. Inclusive, nós temos o Pampa Debates Mulher, que é um atrativo, quando fazemos nas quartas-feiras nobres. O Pampa Debates é um programa plural e está aberto a todos os pensamentos políticos e a todas as pessoas que querem, de uma forma ou de outra, estar conosco para debater os momentos que vivemos no Brasil.
Como é que o senhor enxerga esse cenário polarizado no Brasil, que tem se acentuado?
Nós temos deputados bolsonaristas e lulistas. Possuímos direitistas, esquerdistas e de centro. Nós temos de tudo um pouco e isso nos permite também trazer um pouco de cada um dos vieses políticos para o debate. Então, no RS existe o reflexo contundente como temos em todo o Brasil. Muitas vezes até mais expressivo, porque possuímos deputados mais apaixonados, especialmente os federais.
Como o senhor tem analisado as ações de recuperação do estado pós-enchentes sob o comando do governador Eduardo Leite?
O governador tem sido preciso, claro que ele tem toda a sua competência, pois é um planejador, pensador e excelente gestor público. Já provou isso em Pelotas e agora demonstra no estado também. Toda a crise climática que vivemos, resultou numa injeção muito grande de recursos do governo federal, isso ajudou muito o RS, que hoje tem um caixa muito bom para suportar o futuro. Claro que para investir esse dinheiro existem determinadas exigências, normas e até pactos a cumprir. Mas ele está sabendo muito bem distribuir essa quantidade de recursos que tem entre as diversas comunidades. Por exemplo, um dos projetos que nós temos hoje, é a recuperação das nossas pontes e estradas. Os acessos eram uma promessa de campanha e estão sendo realizados. Chegamos a ter 60 municípios sem conexão asfáltica com as rodovias. Hoje, nós temos meia dúzia de municípios nessas condições e o governador vai cumprir isso até o final de seu mandato. Então, ele está se revelando um grande administrador. É um homem que está conduzindo bem até uma candidatura à Presidência da República dentro do centro.
Como o senhor analisa a possível candidatura de um gaúcho à Presidência da República?
Eu analiso com absoluto entusiasmo e estou me revelando um eleitor do Eduardo Leite para a Presidência da República. Me revelo, uma pessoa que faz parte de um fã clube que ele possui, sem ter essa paixão que a direita ou esquerda desperta. Eduardo Leite é uma figura notória e está recebendo destaque em todo o Brasil. Então, eu vejo com muito bons olhos a candidatura dele. Finalmente, nós temos um gaúcho com protagonismo nacional, que há muito tempo não tínhamos. Com a gestão, que ele está fazendo no RS, o credibiliza e o credencia para ser um candidato à Presidência da República. Claro que não é fácil. O PSDB está desmoronado e acho que ele deve trocar de partido. Falta pouco tempo para termos uma nova eleição, que será em outubro de 2026. Então, essas mudanças têm que acontecer logo, para que ele encorpe mais a sua candidatura à Presidência.
O senhor acha que falta uma liderança de gaúchos nesse governo federal?
Eu acho que não tem liderança gaúcha no governo federal, o único gaúcho que nós tínhamos era o Paulo Pimenta, portanto, hoje não temos nenhum ministro gaúcho, nem no Supremo Tribunal Federal (STF). Edson Fachin é gaúcho, mas possui a sua vida jurídica fora do estado. Então, nos resta o Augusto Nardes, no Tribunal de Contas, que agora sinaliza que quer ser candidato a governador do Estado. Nós perdemos o protagonismo e estamos fora do contexto. Na área agrícola nem se fala, nós éramos expoentes, mas acabamos sendo suplantados por Mato Grosso. Essa culpa é nossa e de quem está ocupando uma posição parlamentar ou executiva, que não está demonstrando isso no cenário nacional, nem despertando interesse de poderes e governos, para ter um gaúcho no convívio da gestão pública do Brasil. Nós não temos mais o protagonismo e isso eu julgo profundamente lamentável.
O senhor considera o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um liberal?
O Trump não é um homem liberal. Nós aprendemos com os Estados Unidos da América o que é globalização. Tanto é que os grandes sucessos da literatura mercadológica e capitalista nos levaram a entender que sem globalização não há sucesso. Na realidade, o Trump é uma versão moderna do nacionalista, ele só enxerga os Estados Unidos e considera que tudo deve ser pelos Estados Unidos. Eu acho que ele é um homem muito forte e tem muita coragem. Mas este fechamento que ele está impondo para os Estados Unidos, cria embaraços com as outras nações e traz um prejuízo enorme para o país.
O senhor acha que existe um cerceamento da liberdade de expressão no Brasil?
Eu acho que todos nós vivemos um momento de medo, por causa do poder de determinados observatórios, que procuram estabelecer sanções para quem se opõe a determinadas pessoas e instituições. Então, o nosso regime de liberdade de expressão e de imprensa é regulado pelo medo. O povo brasileiro também se limita a dizer aquilo que pode ser aceitável, salvo determinados políticos que têm garantias institucionais, que a sociedade não possui. Então, esse ritmo de medo é latente. Quem diz que não tem e quer enfrentar a tudo e a todos ou é louco ou está procurando esconder a realidade dos fatos.
Com a evolução da internet, cada um de nós virou um canal de comunicação, o que de certa forma fez com que a proliferação de Fake News fosse inevitável. Qual a importância dos meios de comunicação tradicionais, onde é feito todo o processo de checagem das notícias?
Hoje, todos podem ser comunicadores e a própria lei do Jornalismo deixou de existir, portanto, não precisa mais de diploma para ser jornalista. Então, as pessoas possuem a liberdade de construir o seu canal na internet. Elas têm condições de criar emissoras na internet, tanto de televisão, quanto de rádio, e enfrentar as gigantes do mercado. Isso não significa que quem usa os meios digitais para fazer a sua comunicação não mereça credibilidade, pois ela não advém do instrumento que se usa para chegar à sociedade, mas da seriedade de cada um, na condição de falar verdadeiramente das coisas que envolvem o Brasil ou o mundo. Então, as Fake News surgem porque as pessoas sabem que o que vai dar audiência é o sensacionalismo. Ele dá muitos likes, portanto, essas pessoas que praticam isso, buscam a notoriedade e o faturamento. Estamos digitalizados, todos nós temos os nossos mecanismos na internet. Mas além de tudo, nós possuímos os nossos meios tradicionais, que se tu somares a audiência que uma Rede Pampa, por exemplo, tem através das suas rádios, do jornal e da televisão, o alcance está muito acima. É claro, sem tirar o valor do comunicador da internet, que nós temos que respeitar e permanentemente analisar este mercado.
A Revista Em Evidência completou, recentemente, 15 anos. Gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem aos nossos colunistas e colaboradores.
Eu sempre penso em vocês, pois existem determinadas pessoas que analisamos pela persistência para o sucesso. Vocês têm sucesso naquilo que vocês se propuseram, porque por onde se vai nesse Rio Grande, não tem um prefeito que não conheça a Em Evidência. Então, é a persistência, com um trabalho sério, que procura estabelecer um Jornalismo de verdade. Vocês decidiram ter uma revista impressa e uma digital. Isso é liberdade. E vocês fazem isso com primor, eu sou consumidor da Em Evidência e um admirador do trabalho de vocês, como de tantos outros meios que estão aí. Então, parabéns a vocês nesses bem-vindos 15 anos, não esmoreçam, continuem assim, porque o sucesso é garantido. Eu acho que o consumidor e o leitor tem a obrigação de ajudar vocês a segurar este barco e levar em frente a Em Evidência. Vocês merecem todo o sucesso do mundo, exatamente pela competência, seriedade e persistência de fazer Jornalismo com qualidade.