A Revista Em Evidência compilou os principais momentos da entrevista concedida, recentemente, pelo deputado federal Ubiratan Sanderson ao programa Raio X, exibido pelo canal Porto Alegre 24 Horas TV. Em uma conversa aberta e contundente, Sanderson fez críticas ao sistema de Justiça e expôs a sua visão sobre o futuro político e institucional do Brasil. Confira a seguir, alguns trechos desta entrevista do deputado Sanderson aos apresentadores do Raio X, Diego Garcia e Arthur Lencina
Deputado Sanderson, bem-vindo ao “Raio X”. Para começar, como o senhor iniciou a sua trajetória política?
Muito obrigado pelo convite. Parabéns a vocês por estarem revolucionando a comunicação em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, um espaço que precisava ser ocupado, e estão fazendo isso com idoneidade. Sou deputado federal, já no segundo mandato, mas de origem sou da Polícia Federal; nunca imaginei que seguiria carreira política fazendo personagem, ou seja, sou eu mesmo, sem máscaras, todos os dias. É claro que essa característica agrada a uns e desagrada a outros. Mas acredito que trabalhar com meias-verdades, começar com algo verdadeiro e construir em cima narrativas que não correspondem à realidade, é perigoso.
O senhor vê hoje um revanchismo político contra quem atuou na Operação Lava Jato?
Não foi só o Partido dos Trabalhadores que foi comprometido no caso. No “Petrolão” também estavam envolvidos o PMDB (hoje MDB) e o Progressistas, que, segundo as investigações, apropriaram-se da Petrobras para enriquecimento ilícito. Há indícios de que o sistema, inclusive instâncias do Supremo Tribunal Federal, passa por revisões processuais importantes: pessoas que nunca prestaram concurso público estão julgando questões decisivas. No Direito Penal, não se pode condenar com base apenas em ilações ou indícios. Existe o princípio de que “na dúvida, absolve-se”, respaldado pela Constituição e pelo Código de Processo Penal. O que estamos vendo, na minha observação, é uma lógica de revanchismo: se o réu é tratado como adversário político, prevalece a dúvida para condenar em vez de absolver.
Qual é exatamente o caso que envolve o Sérgio Moro e o que está sendo julgado?
Eles alegam que o Sérgio Moro, enquanto juiz federal, abusou na condução de ações penais, mas essas investigações tinham a fiscalização do Ministério Público Federal de carreira. Por sua vez, Luiz Inácio Lula da Silva declarou que queria “se vingar” de quem o prendeu. A narrativa exposta sugere que o sistema judicial estaria sendo usado para finalidades políticas: condenações baseadas em indícios e construções processuais seriam aplicadas àqueles considera dos adversários políticos, contrariando o princípio jurídico de que “na dúvida, absolve-se”.
Qual foi o papel de Alberto Youssef na Operação Lava Jato?
Alberto Youssef, que já vinha sendo investigado por evasão de divisas e lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, tornou-se peça-chave na Lava Jato. A investigação revelou que ele operava como doleiro, manipulando envio ilegal de dinheiro ao exterior, depósitos, contas em paraísos fiscais e, no decorrer da apuração, percebeu-se ligação com fraude em licitações da Petrobras, com participação de partidos políticos e empreiteiras, para superfaturamento e desvio de recursos públicos. A Operação Lava Jato constatou o envolvimento de várias diretorias da Petrobras, controladas por três partidos, em licitações superfaturadas (por exemplo, algo estimado em US$ 1 milhão sendo avaliado em US$ 10 milhões) e desvio de recursos públicos em larga escala, valores que, corrigidos, poderiam somar dezenas de bilhões de reais.
O senhor pensa em escrever um livro sobre sua carreira e a operação que acompanhou?
Sim, quando sair da vida política, talvez no ano que vem ou após encerrar minha carreira na Polícia Federal e me dedicar à vida civil, pretendo escrever um livro sobre meus oito anos na Câmara e minha experiência como policial federal. Há muito para contar, especialmente hoje, com as redes sociais que dão visibilidade antes inexistente. Vejo que, entre os 503 deputados federais, talvez apenas cerca de 100 (ou aproximadamente 20%) se dedicam de fato ao interesse público, e no Senado esse número pode ser ainda menor. Isso é grave para um país rico em solo, minério e potencial, que segundo estudo perde enormes recursos por corrupção. O custo da corrupção no Brasil é imenso; já foi estimado em bilhões de reais por ano por peritos da Polícia Federal. Para ter ideia, a Operação Lava Jato teria recuperado cerca de R$ 100 bilhões, mas os superfaturamentos e desvios continuam assombrando o país. Além disso, há algo preocupante: o Supremo Tribunal Federal hoje considera “gravíssimo” criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou ministros da corte. Mais de 30 deputados de oposição, todos de direita, respondem a inquéritos e processos no STF simplesmente por manifestarem críticas, como à postura do ministro Alexandre de Moraes, o que configura, segundo eles, proibição de se manifestar contra decisões da própria corte.
Eu vi que o senhor fez uma declaração ao portal Metrópolis, dizendo que o Bolsonaro está morrendo. O que o senhor quis dizer com isso?
Eu estive com o Bolsonaro recentemente, ele é meu amigo, não só o ex-presidente. Eu o admiro muito, pois é uma pessoa correta, com defeitos como qualquer ser humano, mas com muitas qualidades, principalmente a honestidade. Quando o vi, estava bem diferente do que conhecia: sempre foi alto, forte e sorridente, mas agora estava visivelmente abatido, perdeu 15 kg e estava com um soluço constante, uma sequela da facada que levou. Ele me contou que foi diagnosticado com câncer de pele e os médicos retiraram toda a pele do antebraço dele, que estava cheia de feridas. Ele está com medo, porque com 70 anos o câncer pode já estar mais avançado. Eu me senti na obrigação de falar sobre isso, porque o que estão fazendo com ele é desumano. Ele está muito consciente de que está sendo injustiçado, principalmente pelos processos que enfrenta. No Direito Penal, você pode até iniciar um processo com dúvidas, mas no fim é preciso ter provas concretas. Bolsonaro está sendo tratado de maneira cruel, e isso é algo que precisa ser dito. Ele sabe que está sendo alvo de perseguição, e não é justo o que estão fazendo.
Qual a sua opinião sobre a PEC da Blindagem, especialmente agora que o Senado arquivou a proposta. O senhor votou a favor dessa proposta? E qual é a sua visão sobre o foro privilegiado e os impactos dessa PEC?
A proposta conhecida como PEC da Blindagem nunca foi prioridade para mim nem para o bloco de oposição. Sou totalmente a favor do fim do foro privilegiado, porque acredito que privilégios são incompatíveis com a democracia. No Brasil, apenas mais três países mantêm esse benefício, que permite que deputados, senadores e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sejam julgados por instância superior, enquanto cidadãos comuns enfrentam a primeira instância. Em meus sete anos de mandato, apresentei 12 requerimentos para que o fim do foro fosse votado, avançamos em comissões na Câmara e no Senado, mas sem sucesso. No caso da PEC da Blindagem, votei a favor por uma decisão coletiva do bloco, embora reconheça que a proposta buscava criar uma proteção maior para certos políticos, exigindo autorização do Congresso para inquéritos e investigações, e ampliando o foro para líderes partidários, uma articulação do Centrão preocupada com possíveis investigações. Apesar de polêmica, a PEC acabou arquivada no Senado, o que considero positivo, pois impediu um retrocesso democrático.
Como pré-candidato ao Senado, qual será o seu critério para a escolha dos ministros do STF?
A minha principal diretriz será o tecnicismo e o zero envolvimento político. A escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) precisa se basear em critérios técnicos sólidos, sem influência política ou ideológica. No Brasil, o Senado Federal tem o papel de sabatinar as indicações feitas pelo presidente, mas o que vemos hoje não está certo: muitos senadores se limitam a discursos elogiosos, enquanto poucos fazem perguntas substanciais, isso enfraquece o Senado e a própria Justiça. Eu admiro o modelo dos EUA, onde ministros da Suprema Corte são escolhidos com base no mérito técnico e não na política partidária. Se queremos mudar esse quadro, precisamos garantir que as indicações ao STF sejam feitas com seriedade e exclusivamente com base na qualificação técnica.
Quais são as suas considerações finais?
Primeiramente, quero agradecer por esta oportunidade de participar desse bate-papo. Fico feliz com o reconhecimento de vocês, e fico até emocionado por ver jovens como vocês tão engajados, com um futuro brilhante pela frente. Eu também tenho a minha visão e sempre busco me embasar no que realmente é melhor para o nosso país, sem máscaras e sem esconder nada. Eu vejo um Brasil cheio de potencial, mas que tem sido muito mal administrado nos últimos anos. O que está acontecendo com o nosso povo, os trabalhadores e os jovens que estão indo para fora do Brasil em busca de um futuro melhor, é algo inaceitável. A falta de perspectiva é um problema grave, e, como já mencionei, isso se agrava com políticas populistas que só criam dependência, não geração de emprego e renda. O que precisamos é criar condições para que os brasileiros prosperem aqui. Hoje, temos que pensar em gerar riqueza, criar oportunidades de trabalho e educação para nossos filhos, para que eles não precisem sair para buscar um futuro melhor. Eu acredito que, se tivermos coragem de mudar o rumo, de repensar as políticas públicas, o Brasil tem tudo para ser uma potência novamente. Vamos lutar para garantir que nossos filhos tenham o melhor futuro possível, com educação de qualidade, trabalho e crescimento econômico.





