- Publicidade -spot_imgspot_img

Ísis Varggas, CEO da Iceberg Comunicação

O Programa Em Evidência na TV (aos domingos na Masper TV, canal 520 da Claro NET, das 17h30 às 19h, e também no canal @revistaemevidencia no YouTube) recebeu a cientista política, comentarista do programa e CEO do Iceberg Comunicação, Ísis Varggas, para uma entrevista que se transformou numa aula sobre assessoria política. Confira a seguir, as dicas imprescindíveis para fazer uma campanha de sucesso.

Hoje, você é uma das referências na formação de políticos e assessores no país afora. De onde surgiu essa ideia de capacitar quem faz política?

O Brasil é muito extenso, com várias realidades diferentes, conforme, nós fomos visitando os estados, sentimos a necessidade de profissionalizar essas pessoas que estão assessorando ou os próprios políticos. Afinal, eles tomam decisões sobre as nossas vidas, só que não nos damos conta disso no dia a dia. Quando julgamos que algo está errado, como uma lei que aumenta o imposto, quem está na base é a assessoria, para dar o caminho correto. Normalmente, são cargos apadrinhados depois da campanha, ou seja, não são muito técnicos. Nós precisamos profissionalizar esse pessoal que está no mercado de trabalho. Então, não é só no município pequeno, mas no Estado também tem muito profissional despreparado, porque não existe uma faculdade para ser assessor. Então, nós vamos treinando, adaptando e fazendo o dia a dia mais profissionalizado.

O que mais te surpreendeu quando você começou a trabalhar diretamente com os parlamentares e assessores, que o público não vê?

Tem muita coisa que o público não vê, é como o iceberg onde nós vemos só a pontinha. Quando eu criei o Iceberg Comunicação, quis mostrar para as pessoas tudo que está no envolto até a lei ser sancionada. Antes disso, passa muita água debaixo dessa ponte. Nós precisamos ter uma orientação, para poder fazer um projeto de lei. Quando eu cheguei nos gabinetes de alguns municípios, identifiquei que não havia uma política pública de verdade, porque estava sendo feito o copia e cola ou o simples arroz com feijão. Por isso, é necessário buscar uma especialização. Existem vereadores que não sabem que existe o líder de bancada e que eles podem utilizar o espaço da tribuna para falar. Então, eles se elegem e não sabem como funciona o trâmite. Não é como numa empresa privada, que existe um processo de aprendizado, quando alguém é contratado. Nesse caso, foi o povo quem te contratou, muitas vezes o carro vai andando, tu vais te adaptando e vendo se dá para fazer ou não.

Qual é a diferença entre quem se destaca ou desaparece depois da eleição?

Existem muitos fatores envolvidos, principalmente, para quem está fazendo o seu primeiro mandato, seja como prefeito ou vereador, que depois de eleito se preocupa com várias coisas ao seu redor, mas se esquece da sua base eleitoral. O primeiro mandato gera uma expectativa muito grande, quando a pessoa não entrega o que o eleitor deseja, ela é tirada do jogo na próxima eleição, tanto que o resulta do das Câmaras Municipais é que 60% dos vereadores não se reelegem. Então, quando os vereadores são eleitos é que vem a parte mais complicada, porque a eleição dura 45 dias, o candidato se prepara e vende o seu peixe. O erro é ficar quieto depois, porque a remuneração vai estar ali no final do mês, até com uma pandemia ou uma catástrofe. Então, é frequente que alguns se decepcionem, porque não sabem que seria tão difícil estar ali.

A comunicação virou um campo de batalha na política, principalmente nas redes sociais. Qual o principal erro político que o candidato pode cometer na internet?

É uma batalha onde a extrema-esquerda faz a construção de sua narrativa e a extrema-direita também. Elas precisam de um lado oposto, para que tenham espaço, portanto, se retroalimentam. E o resto fica no meio olhando e dizendo que quer participar também, porque é isso que está na internet. Eu tenho inúmeros clientes que chegam querendo performar melhor na internet. Eu pergunto, quantos habitantes têm na cidade. Se existem 5.000, por que tu queres ter 100.000 visualizações? Isso faz parte do ego. Então, a construção de narrativa é muito ideológica, porque é o que “bomba”. Eu faço conteúdo político na internet, entrego todos os dias dicas gratuitas dentro do @politicaiceberg, mas não falo nem de esquerda e nem de direita. Eu abordo sobre políticas públicas, o mandato e como ser vereador. Tem político que acorda de manhã, abre a internet, olha qual o assunto está sendo mais comentado e grava um vídeo.

Você acredita que o tráfego pago pode eleger um político?

O tráfego pago é o impulsionamento, que permite atingir mais pessoas. Por exemplo, eu coloco um conteúdo e ele chega em 100 pessoas, investindo um recurso que consegue atingir 10.000 muito mais rápido. O gestor de tráfego consegue te ajudar a mapear o que falar e para quem falar, porque a rede é extremamente inteligente. É possível saber tudo que a pessoa deseja, pelo perfil dela nas redes sociais, através de um estudo. Ele não te garante uma campanha de sucesso, apenas te deixa mais conhecido. A campanha é um guarda-chuva, assim como o seu mandato, portanto, várias coisas têm que funcionar ao mesmo tempo. Por exemplo, eu estava numa campanha de um prefeito, no Paraná. O meu gestor de tráfego perguntou: “Se a pauta do candidato é o autismo, onde essas mães estão para conhecerem a proposta dele?” Eu respondi, que estavam levando as crianças nas terapias e nos médicos. Ele sugeriu mapear todos os consultórios desses profissionais, colocando um pin. Então, quando a pessoa acessava aquele espaço geograficamente, ela recebia o material do candidato. Com isso, nos conectamos com o nosso público.

Existe alguma estratégia que você ensinou e virou um case, que tenha te marcado?

O case é o suprassumo de quem faz política, porque tu entregas um resultado. Nós tivemos vários cases dentro do Iceberg Comunicação, mas em especial o maior deles foi no Paraná, numa eleição de um vereador no primeiro mandato, que era bem importante e super disputada. O rapaz nunca tinha disputado, nós assumimos a sua campanha, traçamos as metas e, a partir disso, ele se tornou o vereador mais votado do partido, inclusive pegou a cadeira. Logo depois, conseguimos que ele fosse eleito presidente da Câmara de Vereadores, o que é muito difícil, porque tem que possuir uma aliança política forte. Também tivemos uma eleição no Rio Grande do Sul, que foi fantástica. Eu tive a felicidade de entregar uma campanha vitoriosa em Capão da Canoa. Era uma eleição muito disputada, num município pequeno. Ela é um case de sucesso, porque eram dois irmãos com uma linha muito tênue entre eles, mas o candidato que assessoramos é o atual prefeito. Portanto, esses são os cases que eu trago com carinho no meu coração.

Você fala muito sobre a questão do gabinete profissional. Como identificar quando o mandato está sendo mal conduzido dentro do gabinete?

O gabinete não pode ser um puxadinho da tua casa, dos teus amigos e da tua família. Um casamento perfeito dentro de um gabinete é possuir 50% dos profissionais técnicos, como bons advogados, contadores e economistas, porque se eu quiser fazer um projeto de lei, preciso saber o impacto orçamentário disso. Também, tenho que possuir a parte política, como a pessoa que recebe e serve o cafezinho, que me leva no bairro e promove o capital político. Toda vez que eu levar o vereador ou deputado para determinada área, ele precisa ter contato com mais pessoas, porque o mandato precisa crescer. E, se eu chegar num gabinete, não houver nenhuma visita, nem demandas para resolver ou problemas para solucionar, o político está fazendo tudo errado. É preciso que ele se especialize, porque senão nunca sairá do chão. Portanto, a informação é poder na política e sempre vai ser.

Existe um padrão entre os assessores, que realmente fazem a diferença? O que não pode faltar em um assessor de alta performance?

Eu acho que todo mundo está apto para ser um assessor de alta performance. Ele deve performar pensando não só nele, mas nas políticas públicas de verdade. O assessor tem que fazer o seu melhor, procurando esse conhecimento, que não vem de bandeja, pois não será o teu colega que vai te contar. Então, com a dança das cadeiras sempre se tira aquele que faz o arroz com feijão. Tu serás um profissional indispensável, se conhecer a estrutura da Câmara de Vereadores e a do gabinete, colocar o político na imprensa, saber conversar com o secretariado, possuir articulação política e entender o jogo. Sendo assim, tu te tornas um assessor de alta performance e não é mais contratado pelo apadrinhamento, mas pelo seu ótimo desempenho. Então, tem que estudar, se dedicar e se esforçar, pois quando o assessor se prepara, a sua contratação é disputada.

Como faz aquele vereador que tem pouco orçamento e muita demanda para gerar impacto?

Com o processo, porque tu olhas para aquele espaço e tens uma miniempresa. Eu tenho cliente que não possui tanta estrutura, mas a cada dia ele toma café da manhã numa padaria diferente, para produzir o capital político. Com isso, ele conhece o servente, o dono da padaria ou da borracharia, vai fazendo capital político e se preparando mais. Como o assessor tem que estar preparado, o vereador também precisa disso, porque ele tem que saber o que pode ou não fazer. Por exemplo, se existe uma demanda do bairro Centro, onde ele toma café da manhã. O vereador vai se sentar com o secretário de Obras e dizer: “Viu os bueiros que estão entupidos lá? Eu preciso que tu dê uma olhadinha.” Depois, ele vai no lugar, grava um vídeo falando sobre a de manda que solicitou ao secretário e envia nos grupos do WhatsApp do bairro.

Você criou o Vereador de Impacto e o CAPA (Capacitação de Alta Performance para Assessores Políticos). Qual é a maior transformação que já viu acontecer com alguém dos seus cursos?

Um vereador de segundo mandato, que não tinha inscrito nenhum projeto de lei. Com a nossa capacitação, ele protocolou o primeiro projeto. A realidade dos municípios pequenos é surreal. Quando tive a ideia do Vereador de Impacto e do CAPA, que é uma capacitação voltada para assessores de alta performance, eu quis falar de uma forma que eles entendessem. Então, a parte da teoria é toda com o Alexandre S. Prates, porque ele é especialista nessa área há mais de 20 anos. Portanto, o Alexandre fala o juridiquês e eu entro no final complementando como deve ser feito. Então, o meu melhor feedback é quando a pessoa deixa a minha palestra entendendo como se faz. Nós temos que nos debruçar sobre a realidade das pessoas, ter consciência da faixa etária delas, do poder aquisitivo e da escolaridade, para que possamos nos comunicar do melhor jeito.

Compartilhe:

spot_imgspot_img

Destaques