A cada semana, a estrada que liga Nonoai a Porto Alegre se torna meu escritório móvel, um observatório de quase mil quilômetros, somando ida e volta. Em cada cidade que cruzo, vejo um Rio Grande do Sul de realidades distintas, mas unido por um desejo comum: o de prosperar. Essa jornada é o retrato do meu compromisso: conectar a realidade do interior com os centros de decisão. Foi como prefeita que aprendi que a política real, a que muda o dia a dia, acontece no balcão da prefeitura, no olho no olho com o cidadão. É nos nossos 497 municípios que a vida pulsa e é para eles que devemos governar.
Ao assumir a presidência da Famurs, encontrei 496 colegas prefeitos e prefeitas resilientes, gestores públicos que amam profundamente suas comunidades e que, mesmo diante de cenários adversos, não medem esforços para entregar resultados. O municipalismo brasileiro, no entanto, vive um desafio estrutural: estamos na linha de frente, somos os primeiros a serem cobrados pela população, mas muitas vezes arcamos com uma conta que deveria ser dividida com o Estado e a União. Um exemplo claro é a saúde. Enquanto a Constituição exige um investimento mínimo de 15% do orçamento, nossos municípios gaúchos estão gastando, em média, 22% para não deixar a população desassistida. Essa sobrecarga financeira impõe escolhas difíceis, muitas vezes adiando investimentos importantes em infraestrutura, educação e desenvolvimento.
É por isso que a nossa atuação na Famurs tem sido a de uma articuladora incansável, que une as vozes de 11,2 milhões de gaúchos para lutar por soluções estruturantes. Um dos maiores desafios para a sustentabilidade das gestões é o peso das dívidas previdenciárias. Nossa luta pela aprovação da PEC 66 não é sobre adiar responsabilidades, mas sobre organizar o presente para garantir o futuro. Ao permitir um reequilíbrio A fiscal, a proposta devolve aos municípios a capacidade de investir. Na prática, isso significa mais recursos para a creche, para o posto de saúde e para as obras que a população tanto espera, assegurando a saúde financeira da prefeitura para honrar todos os seus compromissos, inclusive com os aposentados.
Da mesma forma, atuamos na pauta do endividamento rural. A recente aprovação do Projeto de Lei 5122/2023 na Câmara foi uma vitória histórica, fruto de um trabalho de união. Ouvimos os produtores, as entidades do agro, os governos e os parlamentares para construir um movimento coeso e forte. Não fomos os únicos donos da conquista; fomos os catalisadores que reuniram todas as vozes em uma só. E a luta é permanente: agora, seguimos articulando para garantir a aprovação no Senado.
Toda essa articulação, seja em Porto Alegre ou em Brasília, exige uma nova forma de fazer política, baseada no diálogo e na construção de consensos. Essa convicção é a mesma que me levou a fundar, há alguns anos, o Movimento Gaúcho da Mulher Municipalista (MGMM). Agora, como primeira mulher a presidir a Famurs, temos a oportunidade de dar uma nova dimensão e fortalecer essa importante iniciativa. Nosso objetivo é capacitar e encorajar mais prefeitas, vice-prefeitas, vereadoras, secretárias e todas as mulheres a assumirem o protagonismo. Acredito que um futuro mais justo e eficiente para os nossos municípios passa, inevitavelmente, por mais diversidade e sensibilidade na gestão.
A força do nosso estado reside na força dos seus municípios. E é com a união de todos – homens e mulheres dedicados à causa pública – que seguiremos firmes, com diálogo e muito trabalho, para garantir que cada prefeito e prefeita tenha as condições de transformar a realidade e melhorar a vida da sua gente.