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Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre

Recentemente, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, concedeu uma entrevista muito esclarecedora no Pampa Debates, para o jornalista Paulo Sérgio Pinto. Confira a seguir, a reprodução parcial dos destaques do programa veiculado de segunda a sexta, às 17h45, na Rede Pampa.

O que o senhor acha que faltou na sua primeira gestão, que poderia ter sido feito?

Eu sou o primeiro a reconhecer que existe muito déficit. Porto Alegre é uma cidade que tem 252 anos, mas urbanisticamente se constituiu nesse tamanho, a partir da década de 60. No Brasil, as pessoas foram chegando e fazendo os “puxadinhos” em muitas áreas urbanas. Portanto, você tem que correr atrás do serviço público. Nós temos muitos temas que não conseguimos alcançar e outros que melhoramos muito. Eu vou dar um exemplo, quando ganhei a eleição, no primeiro dia, depois da posse, me direcionei para o bairro Mário Quintana, para limpar um dos arroios e fazer um pontilhão, para as pessoas conseguirem passar de um lado para o outro. Então, existe muito déficit, mas teve muitos avanços na cidade.

O senhor é daqueles que só considera o apelo por grandes obras ou as pequenas também lhe sensibilizam?

Com todo respeito às grandes obras, mas as pequenas grandes obras são aquelas que dominam a vida de uma cidade. Nós assumimos na pandemia, reerguemos o município juntos e fizemos com que ele se tornasse uma das cidades mais atrativas de investimentos. Passamos por muitas cheias, sendo que a pior delas foi em maio, tivemos a estiagem no meio de todo esse processo. A pequena grande obra é uma parada de ônibus, o esgoto na porta da casa de alguém, uma torneira com água potável ou um pontilhão. Eu poderia dar inúmeros exemplos de coisas que aconteceram na vida da cidade, que são pequenas grandes obras, mas para aquela comunidade, ela é fundamental. Nós também queremos cuidar das grandes obras, como aconteceu com a Avenida Tronco, que tinha apenas 45% das obras, há mais de dez anos. Agora, ela liga o Centro Sul, com a Terceira Perimetral e a Azenha. Uma das coisas que ficaram pendentes para resolver foi o antigo Estádio Olímpico, não dá para continuar assim, um local tão nobre e bonito da nossa querida Azenha totalmente abandonado. Eu sou o maior fiscal da cidade. Essa questão dos fios, nós vamos apertar o cerco também. Pretendo criar a primeira motovia da cidade. Esse é um tema de mobilidade que virá para a vida real, antes do final do ano. Ela traz segurança tanto para os usuários de automóveis, quanto para o próprio motociclista. Existem muitos desafios pela frente.

O senhor pretende ter um olhar especial para a Rua Voluntários da Pátria e a Avenida Farrapos?

Nós temos quatro empréstimos internacionais bem encaminhados, que tem dinheiro envolvido para a Voluntários da Pátria e a Farrapos. Sem dúvida alguma, o 4º Distrito e o Centro Histórico precisam de uma atenção especial. O 4º Distrito atraiu muito investimento, só de Data Center foi mais de R$ 1 bilhão. As melhores cervejas do mundo estão ali e prevalece uma gastronomia altamente competitiva. Nós precisamos fazer essa proteção de cheia, para dar mais segurança para os investidores. Nós queremos dar mais incentivo e recuperar o nosso 4º Distrito, que fica ao lado do aeroporto, ou seja, um lugar privilegiado da nossa cidade.

Obviamente, nós temos que falar um pouco da Restinga também, que sempre foi palco dos grandes debates. Ela ficou tão boa, que não possui mais uma placa para alugar ou vender.

As primeiras casas chegaram, na década de 70, e Reginaldo Pujol era o diretor do Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB). Ele e o Guilherme Socias Villela estão conosco, os dois foram líderes que desenharam a Restinga. A Estrada do Trabalhador começou na Estrada Costa Gama, foi indo até chegar na Lomba do Pinheiro e atravessar Viamão, chegando perto da Protásio Alves. O Distrito Industrial foi elaborado um pouco mais para cá. Nós fizemos dois movimentos muito interessantes, o primeiro foi vender muitos ter-
renos, pois realizamos um leilão que teve muito sucesso. O segundo foi uma mudança para que o Parque Industrial pudesse ter outros serviços, dando um mix melhor para a região. Então, parte daquele Parque Industrial foi ocupado de forma consolidada. Nós ainda estamos vendendo, mas restaram poucos terrenos. É uma região que melhorou muito do ponto de vista do investimento. Também estamos duplicando parte da Avenida Edgar Pires de Castro, que começa na Hípica e não vamos parar.

Como está a Saúde do município?

Nós avançamos muito na atenção básica, passamos de 279 equipes para 390. Criamos o Centro de Referência do Transtorno Autista (CERTA), que atende 300 crianças por mês. O nosso compromisso é estender mais esse atendimento. No governo do Nelson Marchezan Júnior, nós tínhamos 19 postos que atendiam até às 22 horas e, agora, conseguimos entender para 56 postos. As nossas farmácias especializadas atendem muito bem as nossas distritais. Então, tivemos muito avanço e estamos expandindo duas UPAS, da Lomba do Pinheiro e da Bom Jesus. O nosso problema é a fila, que acontece no Brasil inteiro. Mesmo fazendo um mutirão ela aumentou. Nós colocamos R$ 40 milhões em cirurgias, consultas e exames e ela cresceu, por causa da demanda represada que veio do Covid e de um IPE que está vivendo dificuldades enormes. Nós temos o sistema da Grande de Porto Alegre, que é um tema recorrente. O governo do Estado criou um programa chamado Assistir, que tem muito mérito, mas possui um defeito, pois ele trata o hospital de porta fechada da mesma forma que o de porta aberta. O hospital porta aberta possui um custo muito mais elevado. As emergências da Grande Porto Alegre foram praticamente todas fechadas. Esse paciente da Grande Porto Alegre e mais de 200 municípios têm como referência a Capital. Por isso, eu quero transformar quatro centros de referências, o IAPI, o Santa Marta, o Camaquã e o Murialdo, em policlínicas para poder desafogar um pouco mais a fila.

Teria como resgatar o médico de família, para fazer o atendimento dos diagnósticos mais simples?

Isso é o que faz a atenção básica, a equipe é formada por médico, enfermeiro, fisioterapeuta e o agente comunitário. Quando eu aumento a atenção básica, tenho que aumentar as especializadas também, porque o cidadão procura a atenção básica e sendo constatada a necessidade de um especialista, ele recebe um encaminhamento. Por isso, que precisamos ter mais policlínicas e usar cada vez mais a telemedicina. Ela veio para ficar, nós vamos dar um passo adiante além da telemedicina entre médicos, queremos ter uma mais avançada entre paciente e médico.

O senhor tem um bom diálogo com as entidades médicas?

Sim, eles têm dado boas contribuições. A Amrigs, o Cremers e o Simers são parceiros. Eu sou um prefeito do diálogo, que consegue ouvir todos os lados. Com o ex-presidente Bolsonaro tive um bom entendimento e com o presidente Lula possuo um bom diálogo, porque eu acho que o povo é que resolve quem é o prefeito, o governador e o presidente. E, nós, depois da eleição temos que resolver os problemas.
Os poderes devem ser independentes e harmônicos entre si, mas eu acho que eles têm que entender que conflitar permanentemente traz um prejuízo brutal para a sociedade.

Eu, por exemplo, tenho conversado com o governador Eduardo Leite, para uma parceria com o governo do Estado. E ele sinalizou que é possível que aconteça, na operação consorciada urbana, para despoluir o Arroio Ipiranga. Esse projeto já está contratado, são R$ 6 milhões. Desde 2021, nós investimos R$ 38 milhões na limpeza de arroios.

Eu sou do tempo que ainda podia tomar banho perto da PUCRS, no Arroio Dilúvio, depois foi se degradando e acabou. Agora qualquer chuva transborda, mas com toda essa enchente o Arroio Dilúvio passou incólume.

Isso me remete a uma discussão, sobre limpar o Guaíba. Esse é um papel indelegável do governo do Estado, não é uma tarefa fácil. Eu tenho visto muitos bancos de areia. O Guaíba não pode continuar desse jeito. Eu acho que tem que ser autorizada a retirada de areia. Só na Ilha da Pintada tinha mais de dois metros de altura de areia nas ruas. As pessoas pediam para levar para seus pátios e eu autorizei aliás. Isso mostra a quantidade de sedimentos que vieram do Jacuí, foram toneladas.

O que o senhor acha de existir um monumento ao fotógrafo lambe-lambe?

Eu fui prefeito em exercício, como presidente da Câmara dos Vereadores, quando o José Fogaça era prefeito. Na ocasião, pedi a ele para mandar um projeto para a Câmara de uma aposentadoria especial, que é raríssimo, para dar ao último fotógrafo lambe-lambe de Porto Alegre. Com isso, ele recebe em torno de R$ 1.300.

As pessoas que conhecem Porto Alegre têm ficado fascinadas com a paisagem da orla, encontrando uma similaridade com a vista de Manhattan.

Esta obra já poderia estar pronta há muito tempo, se não fosse o atraso de alguns políticos da nossa cidade. Se dependesse dos meus adversários, não tinha Pontal do Estaleiro, a Orla 1, a Orla 3 e o Parque Harmonia. Pensamos muito diferente sobre isso. Agora é possível tu casares o urbanismo com a orla, porque aquele era um terreno abandonado. E faça-se justiça o projeto original é do Tarso Genro, permitindo a construção mista, que é o que há de melhor. Tem pessoas morando naqueles aparts hotel agora, mas qual é o problema? Isso dá vida ao lugar. Criou-se uma celeuma que foi parar no Judiciário, portanto, aquela obra podia estar pronta há dez anos, mas ainda bem que saiu e está lá com 40% da área pública.

O senhor tem algum projeto para Ipanema?

Nós temos um escritório de reconstrução da cidade, ele está tocando muitas obras, sendo que a de Ipanema já começou. A primeira coisa é reconstruir a praia de Ipanema num novo modelo, a segunda é realizar o estudo futurístico da cidade, que o professor Carlos Tucci foi contratado para realizar. Ele construiu um projeto de proteção das cheias, a partir do Cristal, porque da Vila dos Pescadores até o Lami não existe proteção de cheias, nem Ipanema, Guarujá, Ponta Grossa, Serraria, Belém Novo, Lami ou Boa Vista. A minha casa, que fica na Zona Sul, também foi inundada. O projeto de Ipanema já começou, nós repactuamos o contrato, como fizemos no aeroporto.

Uma cidade tem que possuir o seu marco, como acontece com a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, em Paris, ou até mesmo o Big Ben, em Londres. O senhor também gostaria de fazer um marco em Porto Alegre, para ficar na cabeça das pessoas e ser também um cartão-postal?

Se não fosse a enchente, nós teríamos entregado antes a Usina do Gasômetro, foi uma obra de R$ 20 milhões. É muito importante, porque é um símbolo da cidade. Sabe, eu nunca inaugurei nada, não faço inauguração e nunca fiz. Eu faço vistorias em todas as obras, mas em quatro anos nunca cortei a fita de nenhuma delas, porque acho que isso é jogar para a plateia. A roda gigante está programada para ser construída no Trecho 2, perto da Rótula das Cuias. Esse estudo está sendo bem elaborado.

Por que não se desmancha o Anfiteatro Pôr do Sol que está abandonado a horas e virou um depósito de indigência, lixo e tudo mais?

Nós vamos ter que tomar uma decisão sobre aquilo, estava tudo bem encaminhado, mas veio a enchente e tivemos que remodelar. O Parque Harmonia ficou bonito, eu não participei da festa, mas teve uma Oktoberfest e tem havido muitas atividades lá. Isso dá vida ao parque. É um lugar muito especial e possui uma visão especialíssima da orla. A parceirização é um caminho muito importante.

Quais as suas considerações finais?

Eu sou um goiano de nascimento, mas um gaúcho de coração e sempre gosto de dizer que sou uma pequena compensação pelos milhares de gaúchos que foram para todas as fronteiras agrícolas do Brasil. Eu cheguei aqui em 1978 e a minha razão de ser prefeito foi devido a minha identidade política, que começou ali na esquina democrática. Essa luta pela democracia me transformou num lutador social da cidade e isso me fez depois de muito tempo ser vereador, vice-prefeito, deputado e, hoje, prefeito. Então, eu sou um porto-alegrense por adoção, adotei a cidade e ela me adotou. Tenho muito orgulho dessa cidade que eu governo. Juntos nós recuperamos a cidade depois da pior crise sanitária do mundo, que foi a pandemia, onde perdemos muita gente que nem ao enterro pudemos ir. Ela voltou a crescer e a ser um ambiente de negócios extraordinário. Veio a cheia de maio e eu, desde o primeiro momento, me preocupei em salvar as vidas e reconstruir a cidade. Posso ter muitos defeitos, mas não sou um prefeito omisso, onde tem um problema eu estou lá para ajudar.

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