Primeira mulher a chegar tão alto na empresa, seu nome é respeitado dentro e fora da Corsan, muito provavelmente em consequência de um currículo altamente técnico e de resultados, rápidos, positivos e consecutivos.
Funcionária de carreira desde 2012, ela assumiu a superintendência de Relações Institucionais em 2020, estando entre suas principais atribuições a interlocução com os poderes concedentes (municípios) e a coordenação institucional.
Pós-graduada em Direito Público e com MBA em Direito Empresarial, Samanta é mestranda em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação, o que consolida sua experiência nas áreas do Direito Civil, do Consumidor, Regulatório e Societário.
Em poucos meses, a aproximação com os prefeitos e prefeitas acelerou exponencialmente. Agora, em uma nova etapa, tão desafiadora como a importância do cargo, Takimi mira em uma aproximação com os novos eleitos, no último mês de outubro. Seja para dar continuidade a projetos já em desenvolvimento ou mesmo para iniciar parcerias promissoras, sobre os ombros dela recaem os próximos movimentos da Corsan que impactarão milhões de vidas no RS.
A revista Em Evidência conversou, com exclusividade, com a diretora- presidente da Corsan, que, entre outros assuntos, traçou os rumos e metas da empresa para o futuro, confira
Como é ser a primeira mulher da Companhia Riograndense de Saneamento, em 58 anos?
É uma honra e uma grande responsabilidade com o presente e com o futuro. Em um setor historicamente dominado por homens, considero uma conquista não só pessoal, mas também coletiva. Uma demonstração de que mulheres são capazes de liderar em qualquer campo.
Ser a primeira mulher a liderar uma companhia como a Corsan é eliminar qualquer dúvida sobre a capacidade feminina para tomar decisões estratégicas e transformar realidades. Em minha jornada, busco integrar competências técnicas com assertividade, sensibilidade, visão colaborativa e equilíbrio entre gestão humana e operacional. Busco desenvolver a habilidade de mobilizar equipes para alcançar grandes resultados. Isso nos faz ocupar um espaço e uma perspectiva de que equidade de gênero vai além de um cargo: é fazer parte do mundo em condições iguais de realizar.
Satisfação ainda maior por ter podido contribuir em um momento tão relevante da fusão com um Grupo que veio melhorar nossa gestão trazendo mais inovação, que respeitou a história e os talentos da Companhia e que valoriza muito a equidade de gêneros tendo, inclusive, a meta de gestão feminina atreladas à emissão de Sustainability-Linked Bonds (títulos de longo prazo com condições ao cumprimento de metas de diversidade racial e de gênero em cargos de liderança).
A senhora é funcionária de carreira da Casa, desde 2012. O que mudou na Corsan em 12 anos?
A Corsan passou por uma transformação intensa e significativa, tanto operacional quanto cultural. Quando comecei, a Companhia tinha uma estrutura com foco primário na prestação de serviços. Hoje, é uma empresa referência em saneamento, que se modernizou, adotou novas tecnologias, ampliou suas metas e passou a abraçar a inovação como um dos pilares da sua atuação, sempre com o olhar atento para as pessoas. A digitalização de processos e a implementação de projetos de forte e positivo impacto socioambiental refletem essa evolução.
A Corsan também passou a valorizar mais a conexão com as comunidades que atende. O diálogo com as populações locais se tornou parte fundamental da nossa estratégia. O foco na universalização do saneamento e na sustentabilidade transformou a Companhia em um agente de mudança social, com benefícios diretos à saúde pública e ao desenvolvimento das cidades gaúchas.
Quais os benefícios buscados com a desestatização?
A desestatização traz a combinação equilibrada entre eficiência e compromisso social. A parceria com o setor privado possibilita um salto de competitividade, garantindo que os recursos sejam aplicados de forma mais ágil e eficaz.
Com essa nova dinâmica, a Corsan ganha em capacidade de investimento e velocidade de execução, o que é essencial para alcançarmos as metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento de que 99% da população receba água tratada de qualidade e 90% tenha coleta e tratamento de esgoto. Além disso, a desestatização garante a criação de empregos locais, o desenvolvimento sustentável das cidades e a melhoria na qualidade de vida da população. Precisamos tratar o saneamento como verdadeiro símbolo de inclusão social, cidadania e progresso que é.
Quais serão os principais investimentos da Aegea na companhia?
Até 2033, a Aegea prevê investir R$ 15 bilhões na Corsan, gerando mais de 66 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no país, sendo 47 mil somente no Rio Grande do Sul. Esses recursos serão fundamentais para universalizar o saneamento nos 317 municípios atendidos pela Corsan, com destaque para a ampliação da rede de esgotamento sanitário, que passará de 20% para 90%. Um grande foco será a redução de perdas, combatendo o desperdício e garantindo a preservação dos mananciais hídricos.
Além disso, a empresa está investindo R$ 55 milhões em tecnologias avançadas para automatizar 100% dos sistemas de água e esgoto, permitindo que o Centro de Operações Integradas (COI) monitore em tempo real a infraestrutura da Corsan em todo o estado. Essa automação confere maior eficiência e segurança à operação, além de contribuir para manter a excelência na qualidade dos serviços prestados à população.
Qual a importância do funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Osório para a população do Litoral Norte?
Atualmente, o índice de tratamento de esgoto no litoral é precário. Por isso, a ETE de Osório é um marco relevante para o saneamento no Litoral Norte, uma vez que trata o esgoto e devolve um efluente tratado ao meio ambiente. Após anos de paralisação, a retomada do seu funcionamento representa uma grande conquista para a saúde pública e a preservação ambiental da região. Com essa estação em operação, parte significativa do esgoto gerado passará a ser devidamente tratado, prevenindo a contaminação do solo e dos corpos d’água, e contribuindo diretamente para a melhoria da balneabilidade das praias.
A retomada do funcionamento da ETE também reflete nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável da região, ao garantir que os recursos hídricos sejam preservados e as condições de vida, especialmente para os moradores e turistas, sejam melhoradas. Isso faz parte do plano da Corsan de levar o saneamento a níveis de universalização no estado, priorizando sempre o bem-estar das comunidades.
Como está o debate em torno da obra que levará esgoto tratado de Xangri-Lá para o Rio Tramandaí?
Os debates acontecem para esclarecer a população de que a obra de emissário é vital para o saneamento do Litoral Norte. O projeto é um passo importante para garantir 90% de esgoto tratado, o que representa uma mudança significativa em relação aos atuais 30% da região. Hoje, 70% do esgoto produzido pelos municípios do Litoral Norte não tem o tratamento e a destinação adequados, causando prejuízos ao meio ambiente, à saúde pública e à economia regional. A falta de tratamento, além de poluir o lençol freático, afeta diretamente a balneabilidade das praias e a qualidade de vida de moradores e veranistas.
Trata-se de uma obra licenciada e monitorada de acordo com os padrões mais rigorosos de qualidade ambiental – estamos falando de algo bem maior que uma questão de infraestrutura, e sim de um legado para o futuro.
Como as enchentes impactaram a Corsan?
As enchentes de 2024 representaram um marco na história da Corsan, que enfrentou a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul apenas dez meses após sua privatização.
Sob gestão da Aegea, a Companhia respondeu de maneira rápida e eficiente, ativando um robusto e estruturado Plano que mobilizou cerca de cinco mil colaboradores em três grandes frentes: um grupo atuava na recuperação das 67 estações severamente danificadas pelos temporais; outro levava água emergencialmente para a população desabastecida, enquanto outras equipes garantiam a retomada do tratamento e fornecimento de água em tempo curtíssimo, com a instalação de estações móveis, perfuração de novos poços e construção de novas adutoras que permitem a manobra da água de uma estação para outra. Essas frentes de trabalho, combinadas, evitaram o agravamento da crise sanitária e deram suporte à reconstrução das áreas afetadas.
A Corsan também contou com o apoio de maquinários e equipes de outras unidades da Aegea. Mais de 200 municípios atendidos pela Corsan declararam situação de emergência, e os esforços foram intensificados com helicópteros, caminhões-pipa, geradores e estações móveis de tratamento de água. A rapidez da resposta foi essencial para ajudar a reerguer o estado, já que em situações de catástrofe climática, água é uma questão humanitária vital. Temos um time coeso, unido e que se dedica de forma incansável sempre, isso fez toda a diferença.
Já foram feitas todas as adequações no sistema desde este triste episódio de maio?
Após as enchentes, a Corsan implementou uma série de melhorias estratégicas e operacionais para aumentar a resiliência de sua infraestrutura. Isso incluiu a modernização de estações de tratamento, perfuração de poços artesianos e substituição de adutoras danificadas. Novas tecnologias, como drones e câmeras 360º, foram integradas para monitoramento remoto dos sistemas, e barreiras de proteção e flutuantes vem sendo instalados em áreas consideradas vulneráveis para prevenir futuras inundações.
A empresa já deu início ao estudo para adequações de 31 das 160 estações de tratamento existentes, reforçando a infraestrutura e capacitação de equipes para lidar com eventos climáticos extremos no futuro.
Quais os principais danos que a Corsan tem que lidar no fornecimento do saneamento básico para os gaúchos?
Os principais desafios na rotina operacional da Corsan incluem intermitência no fornecimento de energia nas estações de captação e bombeamento de água, quedas de pressão em redes de distribuição, rompimento de adutoras e identificação de vazamentos não aparentes. Reparos estruturais, reativação de sistemas por falta de energia elétrica e substituição/modernização de equipamentos fazem parte do dia a dia da Companhia para garantir o desempenho de qualidade dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário.
A Corsan agora tem o certificado internacional ISO 9001. Quais os setores que foram reconhecidos com excelência para ganhar este selo?
A Corsan conquistou a certificação ISO 9001 em 2024, reconhecendo a excelência em diversos processos, incluindo captação, tratamento de água e esgoto, manutenção eletromecânica e gestão de produtos químicos. A certificação abrange a Diretoria de Operações, o Laboratório Central de Água e Esgotos, e as operações em cidades como Santa Maria, Gravataí, Passo Fundo, Bento Gonçalves, entre outras. Essa conquista reflete o compromisso da Companhia com a qualidade, eficiência e conformidade técnica em seus serviços e operações.
Como funciona o projeto “Portas Abertas”?
O projeto “Portas Abertas” da Corsan oferece visitas guiadas às suas Estações de Tratamento de Água, Estações de Tratamento de Esgoto e Centros de Operação. Os visitantes, de diferentes faixas etárias, são recebidos por técnicos que explicam todo o processo de tratamento da água, desde a captação até a distribuição. O programa visa também educar a população sobre o ciclo da água, a importância da preservação ambiental e o consumo consciente, estimulando práticas sustentáveis. Quanto mais conhecemos algo, mais compreendemos o impacto e o que representa no nosso dia a dia. Conhecimento liberta.
Saneamento básico é sinônimo de saúde. Que outros benefícios ele traz para a população gaúcha?
Além de promover a saúde, o saneamento básico contribui para a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico. Um estudo do Instituto Trata Brasil aponta que cada R$ 1 investido em saneamento gera R$ 4,80 em ganhos sociais, como a redução de internações por doenças de veiculação hídrica, redução de evasão escolar e melhoria da produtividade, já que as pessoas adoecem menos e deixam de se ausentar no trabalho. A universalização dos serviços de água e esgoto no Rio Grande do Sul até 2033 deve injetar R$ 40,7 bilhões na economia do Estado, beneficiando diretamente cerca de 6,5 milhões de gaúchos e impulsionando setores como o turismo, o imobiliário, entre outros.
Como estão as obras de infraestrutura da Companhia no interior do Estado?
Para a empresa, cada município atendido é um universo que deve ser compreendido, estudado e trabalhado no melhor padrão de eficiência operacional, inovação e investimento. O atendimento é individualizado de acordo com as demandas prioritárias de cada cidade, sempre buscando aprimorar o serviço prestado à população.
Estamos presentes em 317 municípios do Rio Grande do Sul, com praticamente 100% da zona urbana já universalizada em termos de abastecimento de água. Atualmente, o grande desafio é a expansão da rede de esgoto, já que cerca de 250 municípios passarão de 0% para 90% até 2033. No geral, temos uma média de 97% de cobertura de água e 21,5% no esgotamento sanitário – neste último, um déficit alarmante. Nosso foco é ampliar essa rede de esgoto, uma vez que é um problema comum em todo o Brasil, e o Marco Legal do Saneamento veio justamente para transformar essa realidade. Estamos comprometidos com essa meta.
Qual o objetivo do projeto socioambiental “De Olho no Óleo”?
Um litro de óleo descartado incorretamente pode contaminar até 25 mil litros de água. Essa informação é bastante impactante e dá uma ideia do porquê o projeto “De Olho no Óleo” é tão relevante. Queremos conscientizar a população sobre a importância de descartar corretamente o óleo de cozinha usado, evitando impactos ambientais e entupimentos nas redes de esgoto, problema que gera tantos transtornos às famílias. Além disso, o projeto capacita populações vulneráveis a transformar esse óleo em sabão ecológico e em produtos sustentáveis, gerando renda extra para muitas famílias e promovendo uma economia circular e sustentável.
Quais as principais metas da Aegea para a Corsan nos próximos anos?
Com um investimento projetado de R$ 15 bilhões até 2033, a Aegea pretende levar o Rio Grande do Sul a alcançar a universalização do saneamento básico, uma exigência estabelecida por lei, mas também trabalha para ir além do cumprimento de metas e cláusulas contratuais, com projetos que ajudem as comunidades atendidas pela empresa a se desenvolverem. A expectativa é de que esses recursos transformem significativamente a infraestrutura e os serviços de saneamento no estado, elevando a qualidade de vida da população. O compromisso da nova gestão é não apenas manter a eficiência e qualidade dos serviços, mas também garantir a sustentabilidade ambiental e a segurança hídrica a longo prazo. Outro objetivo importante é modernizar a gestão e infraestrutura da companhia, com investimentos em tecnologia, inovação e eficiência operacional, para garantir a sustentabilidade e a qualidade dos serviços. Isso tudo trabalhando um forte viés de responsabilidade socioambiental, com foco nas pessoas e no uso sustentável dos recursos naturais, fortalecendo a liderança estratégica da Corsan no mercado de saneamento brasileiro e tornando-a referência em resiliência no país.