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29/01/2020


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28.01.20 | 18h01
OAB/RS e Federação Israelita do RS lembram vítimas do Holocausto
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Foto: Evelyn Berndt - OAB/RS
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O auditório da Ordem gaúcha lotou, na noite da segunda-feira (27), para receber sobreviventes do Holocausto e homenagear as vítimas do genocídio. O dia 27 de janeiro é considerado, pela Organização das Nações Unidas, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Em 2020, a libertação do maior campo de concentração, o Auschwitz-Birkenau, pelas tropas soviéticas, completa 75 anos.

O presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, abriu o evento, destacando o simbolismo do ato: “É necessário lembrar para que nunca mais se repita. Temos que estar atentos a qualquer sinal de ataque à Constituição e aos direitos consagrados que ela prevê. Não podemos esquecer que todas as atrocidades cometidas pelo nazismo, entre 1933 a 1945, foram feitas com a legitimidade do Estado alemão, que desconsiderou a Constituição existente. Por isso, as instituições têm que ter posição forte ao refutar a intolerância, a discriminação, o racismo e o antissemitismo”, frisou Breier.

O presidente da Federação Israelita do RS, Sebastian Watenberg, ressaltou a importância de manter viva essa memória: “O dia 27 de janeiro é importante justamente para lembrar e para falar às futuras gerações o que foi o Holocausto. Infelizmente, teremos cada vez menos sobreviventes, o que implica a perda da memória de quem testemunhou os fatos. E essa mensagem é universal, não só sobre o Holocausto, mas também é contra a discriminação, a intolerância e contra todas as minorias”, ressaltou Watenberg.

O presidente da Comissão Especial da Verdade sobre a Escravidão Negra (CVEN), Jorge Terra, destacou a cultura de preconceito, enraizada desde os primórdios no Brasil: “Acabamos nos dividindo entre nós e eles, e essas divisões já foram responsáveis por numerosas tragédias na nossa história. Não podemos desfazer o que aconteceu, mas podemos aprender com o passado para que não volte a ocorrer”, enfatizou Terra.

Sobreviventes do Holocausto

No segundo momento do ato, a mesa foi composta por dois sobreviventes do Holocausto e dois netos de sobreviventes, que relataram com muita emoção memórias da época da guerra.

Bernard Kats - judeu, holandês, tem 79 anos e tinha 3 anos quando a Holanda foi invadida. Após a morte de seu pai, Bernard e sua irmã foram entregues a uma organização da comunidade protestante reformista (calvinista), criada para proteger os perseguidos. Passaram por sete endereços diferentes, ficando em alguns deles só por uma noite. Trocaram seus nomes, sua filiação e, assim, conseguiram se salvar. No pós-guerra, com a ameaça de um novo conflito armado, devido à “guerra fria”, sua mãe decidiu emigrar para o Uruguai em 1953. No ano de 1970, Bernard veio a trabalho morar em Porto Alegre.

“Com o avançar da idade, minha memória de infância está mais aguda, porém da minha vida após a guerra não tenho muitas lembranças. Não tenho memórias afetivas, por exemplo. Não lembro da minha vida depois disso, do dia a dia, dos aniversários dos meus filhos, do primeiro dia deles na escola. Porém, me lembro muito bem da infância, e é justamente dela que tenho tentado esquecer a vida inteira.”

Johannes Melis - católico, holandês, 77 anos. Nasceu na cidade de Roermond, ao sul da Holanda. Seu pai era membro da resistência holandesa, treinado para desarmar equipamentos e foi escafandrista. Salvou famílias de judeus, escondendo-os em sua casa. Corajosamente, também salvou pilotos ingleses, canadenses e americanos. Sua família veio para o Brasil em 1951, e Johannes naturalizou-se brasileiro.

“Meu pai construiu um esconderijo na minha casa. Duas famílias judias estavam escondidas no nosso sótão. Meus pais treinaram meu irmão e eu para abrir a porta para os nazistas. Dizíamos que nosso pai tinha ido viajar e que a mãe estava doente. Eles entraram e vasculharam tudo, mas não acharam os judeus.”

Após a fala dos sobreviventes, netos de sobreviventes também falaram em nome de seus antepassados. Pedro Schanzer, neto do sobrevivente Max Wachsmann Schanzer, ressaltou a história do avô e o compromisso de todos de levar a história adiante: “Meu avô foi começar a contar as memórias do que ele viveu só 25 anos depois. Vendo os outros sobreviventes aqui, sei que é muito difícil lembrar tudo que foi passado. É preciso muita coragem para “sobreviver” com todas essas memórias, muitos não conseguiram. Meu avô percorria escolas pelo interior contando sua história e levando conhecimento para as crianças e para os adolescentes. Sempre dizia: Senão eu, quem? Senão agora, quando? Peço que todos aqui lutem para manter vivas essas lembranças e combatam as injustiças”, destacou Schanzer.

O conselheiro federal da OAB/RS, Rafael Braude Canterji, neto da sobrevivente Raquel Braude, falou sobre os relatos da avó: “Ela demorou muito tempo para falar sobre sua vida durante a guerra, dos momentos de fome, da perda de grande parte da família. Mais tarde, veio a descobrir uma irmã em Buenos Aires e o irmão caçula vivo em Israel. Se eu pudesse passar para vocês um desejo da minha avó seria o de que temos a responsabilidade de transmitir aos jovens que é fundamental lembrarmos e mantermos sempre o nosso poder de irresignação com qualquer tipo de violência contra qualquer pessoa”, destacou Canterji.

Reflexão pela Paz

O Grupo de Diálogo Inter-Religioso de Porto Alegre encerrou o evento, convidando todos para um momento de reflexão pela paz e pelo respeito à diversidade. Representantes das religiões judaica, islã, espírita, da Fé Bahai, católica e umbanda fizeram parte do ato.

O coordenador do grupo, o rabino Guershon Kwasniewski, enfatizou o respeito entre as diferentes religiões e crenças como base para a convivência em harmonia: “O Holocausto não atingiu apenas à comunidade judaica, foi uma tragédia para a humanidade. Cada um de nós deve abraçar essa história como se fosse um sobrevivente, pois todos nós, de forma direta ou indireta, somos sobreviventes dessa tragédia. Lembrar é a nossa obrigação, mas não é suficiente, devemos educar as novas gerações. Nós, aqui reunidos, representamos a festa da diversidade, somos testemunhas que, mesmo sendo diferentes, podemos conviver com base no respeito”, afirmou o rabino.

Presenças

Também estiveram presentes à solenidade: o presidente da Caixa de Assistência dos Advogados da OAB/RS, Pedro Alfonsin; a presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero da OAB/RS, Gabriela Lorenzet; o vice-presidente da Comissão Especial da Igualdade Racial da OAB/RS, Artêmio Prado; o presidente do conselho da FIRS e 2º vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil, Zalmir Chwartzmann; o coordenador da Comissão de Deveres e Direitos Humanos da FIRS, Luiz Carlos Levezon; o diretor de advocacy da FIRS, Fábio Lavinsky, a vereadora Lourdes Sprenger, representando a Câmara de Vereadores de Porto Alegre; e o coordenador de relações internacionais e federativas do munícipio, Rodrigo Corradi.

 
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