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19/10/2017

O  Papel das Mulheres na Reforma Protestante foi tema do painel promovido pela Assembleia Legislativa, na noite dessa quarta-feira (18), em parceria com a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja Evangélica Luterana do Brasil. O evento, que aconteceu no Teatro Dante Barone, integra agenda alusiva aos 500 Anos da Reforma Protestante e a programação do Fórum dos Grande Debates promovido pelo Parlamento gaúcho, em sexta edição.

O presidente da Assembleia, deputado Edegar Pretto (PT), fez a saudação de abertura. Citou que o painel, resultado de parceria construída com as representações da igreja evangélica luterana, integra o rol de iniciativas cujo objetivo principal, neste ano de 2017, está sendo o de debater, defender e ampliar a luta em favor dos direitos de equidade de gênero. “Assim, a Casa abre este espaço para o destaque do importante papel das mulheres na reforma protestante. Aliás, estes 500 anos daquele movimento são um marco histórico, que não significou apenas uma reforma religiosa, mas algo bem maior, que mudou a história do mundo”, observou Edegar Pretto.

Conforme ele, a ação buscou mudar a postura elitista da igreja católica, “que protegia os poderosos, que oprimiam os mais fracos e mais pobres. Temos a clara compreensão do papel significativo que as mulheres cumpriram, e cumprem, no contexto da reforma consagrada por Lutero”. Segundo ressaltou o presidente do Parlamento, “infelizmente, por uma cultura machista que está impregnada historicamente na sociedade, são dados à mulher papéis menores. Em pleno século 21, as mulheres, mesmo desempenhando funções iguais às dos homens recebem menos por isso, outra consequência desta cultura que tanto mal faz. Nós, homens, precisamos ter a consciência da busca permanente da desconstrução deste processo nefasto, de que o homem é o forte e a mulher a parte fraca, que lhe deve obrigação. Uma cultura doentia”, apontou.

Frente Parlamentar
Relatou seu trabalho, iniciado em 2011, quando constituiu uma Frente Parlamentar dos Homens pelo fim da violência contra as Mulheres. “Nesta caminhada, temos feito o chamamento, junto aos mais variados segmentos da sociedade gaúcha, para que todos nos levantemos no combate a esta cultura discriminatória, para que a mulher seja reconhecida e ocupe seus espaços de fato e de direito. Desta forma, esta Assembleia recebe nesta oportunidade o relato de mulheres de destaque, para darmos voz e visibilidade ao protagonismo feminino na Reforma Luterana”, sublinhou Edegar Pretto.

Na sequência, antes do início do painel, os presentes assistiram a esquete teatral (peça de curta duração) intitulada “As mulheres na Reforma”, interpretado por alunas do Programa de Gênero e Religião da Faculdade EST, de São Leopoldo. O grupo encenou parte da história de Catarina de Bora, esposa de Martinho Lutero, e de outras mulheres igualmente importantes, cuja atuação foi significativa para o surgimento do protestantismo.

A secretária-executiva da Secretaria de Mulheres na Igreja e na Sociedade, da Federação Luterana Mundial (FLM), pastora doutora Elaine Neuenfeldt, primeira painelista da noite, iniciou informando que a FLM é uma comunhão de 145 igrejas-membros, congregando mais de 174 milhões de pessoas luteranas ao redor do mundo, cuja sede está em Genebra, na Suíça.

“Pois lá, na Universidade de Genebra, fundada por Calvino, há um muro em homenagem aos reformadores, todos homens. Numa parte, escondido por galhos, encontra-se o nome de Marie Dentière, uma mulher reformadora. Faço esta citação de forma emblemática, para tratar das experiências das mulheres com a Reforma: escondidas entre as sombras da história”, ressaltou.

De acordo com ela, as mulheres participaram ativamente daquele movimento. “Umas por serem filhas da nobreza o apoiavam economicamente; outras, por terem tido a chance de estudar por estarem reclusas na vida monástica. Ao abandonarem os conventos, integraram-se à Reforma e, formadas em teologia, atuaram nas elaborações teóricas e teológicas do movimento. Foram necessários 500 anos para que descobríssemos a presença e a participação delas na Reforma. Espero que não sejam necessários outros 500 anos para que suas biografias integrem os cursos de teologia, ou de história eclesiástica ou do pensamento religioso”, ponderou.

Visão ainda distorcida
Segundo Elaine Neuenfeldt, ainda há uma visão distorcida do papel daquelas mulheres, “que eu diria que ficaram escondidas por detrás de cortinas ou em cozinhas. Visão ainda determinada por parte das construções de gênero que persistem nos dias atuais”. Na sequência, trouxe aspectos biográficos de algumas das protagonistas da reforma, “creio que ainda desconhecidos da maioria”.

Sobre desdobramentos da Reforma e o papel das mulheres, informou que, das 145 igrejas-membros, em mais de 80% se é favorável à ordenação de mulheres (como pastoras). “Algumas igrejas ordenam mulheres ao pastorado, mas não reconstroem seus espaços de participação na sociedade, inviabilizando seu pleno papel. É preciso mudar isso. Ao incluir a mulher no ministério, este ministério muda, a forma de pregar muda e a igreja deve mudar. É preciso deixar a mulher fazer como ela sabe fazer”, advertiu.

Disse que um dos princípios básicos deve ser a justiça. “A política de justiça de gênero da FLM tem como basilar a noção bíblica e teológica da justiça”, citando trecho de documento da instituição segundo o qual “Justiça de gênero implica na proteção e promoção da dignidade das mulheres e dos homens … se expressa por meio da igualdade e do equilíbrio nas relações de poder entre homens e mulheres e na eliminação de sistemas de privilégio e opressão que sustentam a discriminação”. Por fim, ao destacar que o problema e o desafio são no sentido de que as mulheres recebam reconhecimento público, ainda submetidas a um sistema cultural de crenças que há um feminino natural inferior ao masculino,

Elaine disse esperar, na celebração dos 500 anos da Reforma, “o exercício de uma prática religiosa que dê sentido às nossas vidas como mulheres. Fragmentadas, doloridas, sofridas. Uma igreja que nos faça livres dos preconceitos, que nos faça livres para abraçar o outro, de forma fraternal. O que nos une é o desejo de reconstruir as relações humanas, desenvolvendo e ampliando valores a compartilhar, como a misericórdia e o amor, ofuscados pela intolerância e discursos de ódio”, ponderou

A importância de Catarina
A vice-presidente de comunicação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), jornalista Aline Koller, destacou a importância de Catarina de Bora na vida de Lutero. Citou o livro Catarina, minha querida, de autora britânica, no qual há citação de Lutero segundo a qual a sua vida e o movimento protestante não teriam sido os mesmos se não fosse por ela, por sua participação e protagonismo. Esclareceu que o livro é um romance histórico sobre o casamento de Catarina de Bora e Martinho Lutero.

Escrito do ponto de vista de Catarina, o livro mistura história e ficção para revelar toda a sensibilidade, força e fé desta ex-freira que se tornou esposa do mentor da Reforma Luterana. “Sem dúvida, uma influência muito forte na construção da teoria da Reforma e na vida de Lutero, que também deixou consignada a sua experiência de convivência com uma mulher. Catarina foi um instrumento de Deus na vida de Lutero, que escreveu: “Sem minha Cat, eu estaria perdido”, acrescentando que o maior presente que havia recebido de Deus, depois de conhecer o Cristo e seus ensinamentos, foi ter convivido com Catarina”, referiu Aline.

Ainda de acordo com ela, a influência de Catarina junto a Lutero aconteceu em várias áreas. Era ela quem controlava as finanças, cuidava da casa e dos seis filhos, dos contatos com as gráficas quanto aos escritos do marido (que viajava muito), bem como de uma pousada que os dois mantinham para receber peregrinos. “Lutero já naquela época deixou reconhecida a importância de Catarina nas cartas que escreveu. Já via que todos somos importantes, independente se homens ou mulheres. Todos devem ser dar bem, ser amigos em Cristo. Há, em certos casos, temor em relação a casamentos, mas eles darão certo, se houver respeito, amor”, comentou.

“Foi igualmente exemplo de ajuda ao próximo. E esta é uma vocação que deve ser aplicada e exercida por todos os que se preocupam com o próximo; vocação igualmente que acontece na política, com os políticos devendo auxiliar e ajudar a quem precisa. Mulheres e homens juntos, trabalhando pela família, pela sociedade, pelo planeta, em igualdade de importância e pela palavra de Deus", informou a jornalista.

A importância da educação
A professora de Teologia Feminista e co-coordenadora do Programa de Gênero e Religião das Faculdades EST, pastora doutora Márcia Blasi, iniciou destacando que a Reforma impactou a vida de mulheres, e mulheres impactaram o curso da reforma. “Ensinamentos e descobertas surgidas ali possibilitaram que meninas e mulheres fossem protagonistas da sua história e não meras apoiadoras, ou só espectadoras. Neste período de 500 anos desde 1517, mulheres, e homens, construíram um grande movimento, o Movimento da Reforma, que teve como alicerce a educação, com Lutero enfatizando sua importância também às meninas”, observou.

Na sequência, trouxe o crescimento da participação das mulheres nos cursos de teologia e a preparação ao ministério, bem como a implementação de cursos de teologia feminista, como no caso das Faculdades EST, de São Leopoldo, tendo como base a Política de Justiça de Gênero, documento institucional que define e regulamenta a implementação da justiça de gênero como princípio teológico, pedagógico e ético a ser materializado nas ações realizadas pelos diferentes setores de trabalho da instituição.

Sobre os próximos desafios, enfatizou que a educação a todas as pessoas, grande ênfase da Reforma, “ainda não é um direito de todas e todos. Como pessoas luteranas temos o dever de denunciar as políticas que reduzem os recursos à educação. Igualmente, temos usar nossas vozes contra a violência diária contra as mulheres, em todos os espaços da sociedade, especialmente no contexto doméstico e familiar. Bem como nunca poderemos nos omitir de denunciar a violência dentro das próprias igrejas ou noas discursos teológicos”, alertou.

Também presentes, o presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, pastor Nestor Paulo Friedrich, o presidente da Comissão dos Festejos dos 500 Anos da Reforma Protestante, Zenar Eckert, e representações de comunidades luteranas do RS.

 
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