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18/09/2017




Em  1937, a cidade de Munique, na Alemanha, ficou horrorizada com a exposição “Arte Degenerada”. A mostra consistia em obras de arte modernistas expostas de maneira caótica e com faixas que ridicularizava o conteúdo exposto. O objetivo era inflamar a opinião pública alemã contra o modernismo e qualquer tipo de expressão artística não-alemã. Como quem estudou História deve saber foi com muito uso de propaganda que Hitler implantou o nazismo na Alemanha, que terminou por queimar livros e depois pessoas. Em Porto Alegre, episódio recente no Santander Cultural compartilha de ingredientes semelhantes ao ocorrido em Munique.

Um grupo que fez fama nas redes sociais com discursos de ódio à esquerda, e que vive de polêmicas na rede, provocou um factoide para, mais uma vez, conseguir algum espaço junto à opinião pública. Não vou entrar aqui nos interesses desse grupo, que se dizia apartidário e hoje ocupa cargos públicos em todo o Brasil (inclusive em nossa Capital), mas sim na covardia e propósito de sua ação. Ao afrontar frequentadores da mostra, criando interpretações erradas sobre a exposição, conseguiu levar consigo uma legião de desinformados que se sentiram feridos por simples pinturas de artistas renomados nacionalmente.

Mas a grande questão da polêmica é que tudo isso descortina o preconceito que boa parte da sociedade brasileira ainda tem com minorias, como gays e outros LGBTs, que eram o tema da exposição. A dificuldade, por exemplo, em entender as discussões sobre gênero simboliza com clareza tudo isso. Enquanto países desenvolvidos, como aquela Alemanha outrora assombrada pelo totalitarismo, tratam desse tema com naturalidade com crianças de 11, 12 anos em suas escolas, no Brasil é tabu cogitar conversar sobre o assunto. O mais grave de todo esse debate é que boa parte das pessoas que condenaram a exposição o fizeram sem ao menos ter visto suas obras.

O importante nesse momento do país, para alguns grupos, é exterminar qualquer resquício ou espaço representado pela esquerda (como se a defesa de minorias tenha de ser apenas uma bandeira de alguns). Mas isso não pode significar a censura de quem vê o mundo diferente. A hipocrisia do brasileiro em falar sobre gênero, sexo e outros tantos temas de nossa natureza nos fazem líderes no ranking de assassinatos de LGBTs e também nos casos de violência contra a mulher. Enquanto a “família de bem” vocifera contra a arte, mesmo não entendendo nada sobre o assunto, se aprofunda o abismo que nos separa das civilizações avançadas.

Opiniões à parte é sempre bom lembrar que a arte tem esse propósito. Provocar, fazer pensar e, até mesmo, incitar sentimentos escondidos. Se tu gostas ou não do que é exposto é outra coisa. Agora incitar o fechamento de uma exposição em nome da moral e dos bons costumes (já vimos essas velhinhas na década de 1960 antes da Ditadura Militar) beira à esquizofrenia. Vivemos em tempos difíceis. Uma boa dose de tolerância, estudo e empatia não faria mal para o nosso país.

 
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