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21/06/2022 |
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Os cortes no orçamento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com os respectivos impactos negativos sobre a instituição e para a economia local e da região, foram debatidos nesta segunda-feira, (20), na Câmara de Vereadores de Santa Maria durante reunião pública, que reuniu integrantes do corpo docente, alunos, trabalhadores da instituição, vereadores, entidades sindicais. Os cortes anunciados pelo governo federal chegam na casa dos R$ 9 milhões. "Enquanto houver governos que acham que colocar dinheiro em educação é gasto, continuaremos na contramão da História, pois estamos falando de algo que deve ser tratado como investimento. Aportar recursos à educação garante as condições para que a sociedade tenha meios e possibilidades para se instruir, se formar. Investir em educação é dar acesso aos filhos dos trabalhadores, dos mais pobres, poder frequentar os bancos de uma universidade", afirmou o presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci Oliveira (PT), em sua fala inicial na plenária promovida pela Sedufsm – Seção Sindical dos Docentes da UFSM. "Lamentavelmente, principalmente nos últimos períodos, isso parece ter incomodado muita gente, que viu que pessoas da periferia começaram a acessar o ensino superior. É preciso bradar aos quatro cantos contra isso. Enquanto chefe do Parlamento gaúcho, enquanto deputado, enquanto militante político e morador de Santa Maria, me sinto constrangido e triste em estar numa atividade debatendo os cortes nas universidades. Gostaria, como muitas vezes fizemos, estar em um evento para comemorar o aumento de recursos", avaliou Valdeci, enfatizando que o assunto não dizia respeito somente à comunidade acadêmica, mas a toda sociedade, "de Santa Maria, da região, do estado e do país".
Já o presidente da Câmara, vereador Valdir Oliveira, destacou que o impacto da redução nos recursos para a UFSM não será apenas para a cidade - o orçamento da Universidade é maior que o do município -, mas para a região como um todo, que também sofrerá com os cortes previstos, pois se tratam de recursos que deixarão de circular na economia local. Além disso, defendeu a necessidade de se defender o caráter de uma universidade cada vez mais pública, com a ampliação de infraestrutura e acesso à população. Os números apresentados durante o encontro pelo reitor da UFSM, Luciano Schuch, mostraram que, independente de bloqueio e cortes, o orçamento previsto para a instituição em 2022 já não seriam suficientes para todas as atividades, resultando num déficit de R$ 38 milhões. Referente ao anúncio feito pelo Governo Federal no dia 27 de maio, atualmente, já houve a redução de R$ 4,6 milhões e mais R$ 4,6 milhões de bloqueio. Schuch pontuou que o capital disponível em 2022 é um dos menores da última década e, dessa forma, pela primeira vez, a gestão estaria discutindo diminuição dos investimentos na parte acadêmica, com reflexos diretos na concessão de bolsas de estudos, entre outros quesitos.
Na opinião do presidente da Sedusfm, Ascísio dos Reis Pereira, que fez questão de ressaltar em sua fala a importância do trabalho desenvolvidos pelos grupos de docentes e técnico-administrativos para o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão, os cortes orçamentários perpetrados pela União nos últimos anos não são mero acaso, mas intencionais de governantes que veem a universidade como inimiga da sociedade. A representante da ATENS/UFSM (Seção Sindical dos Técnicos de Nível Superior), Gleci Coser, observou que muitos alunos estão retornando às suas cidades de origem por conta do corte dos recursos destinados à assistência estudantil, que inclui apoio para moradia, bolsas de estudo, transporte e alimentação. A avaliação do Coser foi referendada pela assistente social da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFSM, Tânia Flores. Segundo ela, que trabalha há quase 40 anos na universidade, o período atual é o mais crítico em relação à assistência estudantil, por isso a necessidade de que a população se mobilize em defesa da manutenção das atividades da instituição.
Como encaminhamento da reunião pública, o presidente da Câmara deliberou realizar um manifesto contrário aos cortes ao orçamento da UFSM a ser enviado ao Governo Federal. O documento ficará disponível para a assinatura dos 21 vereadores da Casa Legislativa. "Além de me solidarizar, quero colocar à disposição o espaço da presidência da Assembleia Legislativa a todas as categorias aqui representadas", afirmou Valdeci, destacando que em 2017, quando a Universidade também foi vítima da retirada de recursos pelo governo Federal na época, o seu mandato, ao lado do então chefe do Parlamento na ocasião, o deputado Edegar Pretto, participou ativamente da organização de um movimento que contou com a participação de todas as universidades e institutos federais localizados no estado. "E conseguimos avançar, como muita luta, e unimos o que foi possível das bancadas gaúchas na Câmara e no Senado federal, pois esse tema não é de A, B ou C, mas de todos e todas que querem o desenvolvimento, tanto econômico quanto humano. E isso passa rigorosamente pela nossa UFSM. E quem não compreender isso está fora da realidade", finalizou o chefe do Legislativo gaúcho, lembrando que, entre outras questões de relevante importância da área do ensino e da pesquisa, a Universidade Federal de Santa Maria é a 14ª melhor instituição do país e a 5ª melhor do Brasil no combate à fome e desenvolvimento da agricultura sustentável.
Alguns dados apresentados pelo reitor Luciano Schuch: - O orçamento previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) para a UFSM em 2022 é de 1.306.727.253.00. Para manter as atividades de forma integral, faltariam mais de 38 milhões;
- Em 2022, 98 profissionais terceirizados foram demitidos. Entre 2014 e 2021, foram cerca de 290 demissões;
- Entre 2016 e 2021, houve uma redução de 20% dos serviços de limpeza, 63% dos serviços de vigilância e 53% no apoio administrativo;
- Houve a perda anual de mais de R$ 232 milhões com salários de servidores e terceirizados. Valores esses que deixaram de circular na economia local;
- Redução de 225 técnicos administrativos, devido à extinção de cargos. Nesse contexto, deixaram de circular na cidade e região cerca de R$ 24 milhões;
- Redução de 19% das bolsas de mestrado e doutorado, representando cerca de R$ 5,5 milhões, montante que poderia movimentar o comércio e serviços;
- Viagens nacionais e internacionais com financiamento da Universidade estão suspensas, medida a qual poderá impactar no aeroporto local
Texto: Marcelo Antunes Foto: Christiano Ercolani |
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